Três Anúncios Para Um Crime - Crítica


            O mundo como conhecemos caminha a passos largos para momentos de tensão e completa insegurança, ondas de extremismo e conservadorismo radical dão a tônica desse atual período, isso claro que não esta associada apenas a medidas oficiais, dentro dos mais variados governos, mas sim no lado individual de cada um, onde ações extremas geram reações ainda mais extremas e incertas, gerando instabilidade, escrito e dirigido por Martin McDonagh chega aos cinemas brasileiros Três Anúncios Para Um Crime, favorito ao Oscar de melhor filme, traça um perfil da insegurança no estado do Missouri, em uma pequena cidade do sul dos Estados Unidos, uma cidade palco para os mais variados choques de ideias, gerando na comunidade um debate de pensamentos e ideias nada saudável.
            Sinopse: “Inconformada com a ineficácia da polícia em encontrar o culpado pelo brutal assassinato de sua filha, Mildred Hayes (Frances McDormand) decide chamar atenção para o caso não solucionado alugando três outdoors em uma estrada raramente usada. A inesperada atitude repercute em toda a cidade e suas consequências afetam várias pessoas, especialmente a própria Mildred e o Delegado Willoughby (Woody Harrelson), responsável pela investigação”.



            O longa faz da sua região interiorana um microcosmo de sentimentos globais, o ponto de partido do filme se dá quando uma mulher aluga três outdoors na pequena estrada que da acesso a Ebbing, no Missouri. Nos anúncios que batizam o filme nos cinemas nacionais a protagonista cobra o departamento de policia local pela não resolução de um crime brutal envolvendo sua filha, o evento quebra toda a falsa pacificidade existente na cidade, gerando um ponto de extremismo, colocando em choque seres que parecem não serem nem mais da mesma espécie.

            A produção poderia ser facilmente apenas um conto de ordem moral, com a empatia sendo sua grande e edificante mensagem, porem seu realizador é muito mais inteligente, e talvez suas raízes no teatro façam com que McDonagh realize uma espécie de farsa sobre os ocorridos naquela cidade, local que parece ser uma bomba relógio preste a explodir, mas enquanto esse processo se desenvolve o único que se pode fazer é dar risada daquilo tudo, um filme que traduz um estado neurótico das coisas que gera, sobretudo um riso de nervoso.


            O filme é dono de um humor debochado, acido radical, sem medo nenhum de tocar nas mais expostas feridas de um ainda fresco cenário sócio-político americano, sem fazer menções explicitas sobre ele, o diretor e roteirista entra em um seleto grupo de cineastas que conseguiram pensar com perfeição as complexas conexões politicas e sociais do mundo, a grande competência do filme é colocar os dois lados de uma mesma moeda em constante critica, os dois extremos não dialogam em momentos de crise com seu próprio jeito de pensar, ou seja o longa faz uma analise profunda desse processo, de um conservadorismo cego que não percebe que apenas reproduz um discurso de ódio, pautado apenas em uma violência desmedida e descontrolada, sem perceber que não coloca nenhuma ideia para melhorias sociais.

            Com esse rico material humano a disposição, quem se destaca é o elenco e que elenco, Woody Harrelson encarnando um policial imerso em um pensamento corrompido que apenas consegue rir da própria figura, Francis McDornand uma fira e amargurada mãe que leva todos os seus pensamentos ao máximo, e Sam Rockwell que é a tradução perfeita de uma criança portando armas de fogo, sendo um policial sem nenhuma consequência de seus atos, o mais interessante é que todos eles acreditam plenamente em suas ações, por mais bizarras que sejam, gerando a medida certa entre o drama e a ironia.


            Três Anúncios Para Um Crime é um longa extremamente humano, que faz questão de analisar a funda cada um de seus personagens principais, investigando o cerne daquelas figuras e suas respectivas ações, o grande êxito do filme porem é fazer com que o curioso material se torne interesse para a compreensão do espectador, daqueles que são diferentes, com uma potencia textual e uma força sem igual entregue pelo elenco, o filme faz com perfeição o trabalho de expor suas ideias sabendo criar um cenário de neurose coletiva, mostrando com clareza a compreensão do seu próprio tempo.


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