Lady Bird: A Hora de Voar - Crítica


            Algo que praticamente todo cineasta deseja ao realizar um filme é transmitir a honestidade em suas produções, uma qualidade muito rara nos dias atuais, por sorte e talento a diretora Greta Gerwig consegue alcançar existo em seu primeiro trabalho atrás das câmeras com o filme Lady Bird: A Hora De Voar, um filme honesto não significa de maneira alguma que há uma exposição de  fatos internos, ou uma característica autobiográfica, até pode ter, mas essa honestidade vem de uma entrega da alma naquela produção, um cuidado e um carinho  em relação ao mundo e aos personagens que desenvolve, realizando uma simbiose entre os fatores técnicos e estéticos escolhidos com a narrativa e os temas desenvolvidos ao longo da trama.

            Sinopse: “Christine McPherson (Saoirse Ronan) está no último ano do ensino médio e o que mais deseja é ir fazer faculdade longe de Sacramento, Califórnia, ideia firmemente rejeitada por sua mãe (Laurie Metcalf). Lady Bird, como a garota de forte personalidade exige ser chamada, não se dá por vencida e leva o plano de ir embora adiante mesmo assim. Enquanto sua hora não chega, no entanto, ela se divide entre as obrigações estudantis no colégio católico, o primeiro namoro, típicos rituais de passagem para a vida adulta e inúmeros desentendimentos com a progenitora”.


            A produção acompanha a jovem Lady Bird durante seu ultimo ano no colegial, mostrando seus romances, suas aventuras, sua rebeldia as vezes controlada e seu principal objetivo sair de sua cidade natal, a pequena e pacata Sacramento. Essa pode parecer a típica narrativa de passagem, e até pode ser mesmo, mas a honestidade como isso é tratado no filme o transforma em uma obra diferente das já vistas anteriormente, conseguindo colocar importância e particularidade naquilo que já foi reproduzido tantas e tantas vezes e de tantas formas diferentes, a diretora e roteirista Greta Gerwig consegue fazer seu retrato especifico da juventude, e consegue alcançar emoções muito fortes, como ternura, melancolia, raiva, angustia e amor sem precisa apelar para as referencias de obras que já conseguiram alcançar sucesso de sua forma.

            Essa escolha narrativa faz com que o filme assuma com toda força o que ele realmente é algo que faz as suas indicações ao Oscar soarem estranhas, mas de forma alguma injustas, o que acontece aqui é que não há uma busca por estilos e por provações que colocariam aspectos x ou y em destaque em comparação a outros títulos. Lady Bird é apenas isto ou tudo isso, a obra é um filme dos pequenos momentos, de dar importância aos pequenos dramas e como eles afetam os indivíduos, é sobre a importância do amadurecimento e como isso dói e principalmente sobre a aceitação daquilo que faz de você quem você é.


            A protagonista é realmente questionada e age de acordo com todas essas questões, essa relação direta na forma como o filme na forma como o filme trabalha os problemas de seus personagens promove um aprofundamento humano e real naquelas figuras, não julgando suas motivações ou ações, apenas compreendendo como são aquelas pessoas, e como aquela fase na vida deles é uma fase difícil e conflituosa que precisam passar juntos, como o próprio filme diz há sofrimento além da guerra.

            A câmera da diretora é próxima, fluída e sem maneirismos em seus movimentos faz um retrato da simplicidade, de uma vida comum, de uma cidade que aparece sem vida, a montagem rápida, afeita aos jump cuts (cortes que não respeitam uma linearidade cênica, promovendo pequenos saltos temporais), evidenciam essa menina que está sempre em efervescência, sempre pensando em seu próximo passo, naquilo que ela quer ser, e isso confere ao filme uma proximidade invejável, expressando os pensamentos de uma garota que quer sempre mais e se vê num lugar que parece não pertencer a ela.


            Lady Bird: A Hora de Voar consegue traçar um registro extremamente forte e potente daquilo que deseja ser, e talvez nenhuma obra dessa premiação tenha tamanha consciência daquilo que realmente é, a simplicidade com que o longa faz de seu retrato e trajetória algo extremamente próximo ao publico, em um daqueles filme que com muito pouco diz muito sobre uma geração inteira, seja lá qual for o problema que se passa, o filme faz de sua honestidade sua maior qualidade e isso gera um raro afeto  por um produção de cinema, compreendendo muito bem esse movimento de amadurecimento, em um exercício pessoal de olhar para trás e perceber aquilo que nos torna quem somos são os fatos e momentos que vivenciamos.


Comentários