Me Chame Pelo Seu Nome - Crítica


Um filme sobre amor, e tudo o que essa palavra de quatro letras significa, aberto e suscetível aos mais variados tipos e níveis de sentimentos, formas e propostas que isso possa se relacionar, uma obra tão arrojada e suficiente para assumir toda a sensibilidade de um texto sem que exista no seu desenvolvimento uma preocupação com um sentimentalismo por acreditar na realidade do sentimento que imprime na tela, Me Chame Pelo Seu Nome é um filme que faz questão de dar um close nos mínimos detalhes, nos toques por acaso, nas trocas de olhares, e consegue dizer muito nesses pequenos momentos em que um pretenso cinema autoral acredita que o bom cinema esta no elogio as técnicas aprumadas de seus realizadores.

“O sensível e único filho da família americana com ascendência italiana e francesa Perlman, Elio (Timothée Chalamet), está enfrentando outro verão preguiçoso na casa de seus pais na bela e lânguida paisagem italiana. Mas tudo muda quando Oliver (Armie Hammer), um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai, chega”.



Felizmente o filme tem consciência de suas imensas e profundas qualidades, e entende que o uso de imagens tão minimalistas, antes consideradas piegas ou algo do tipo, quando inseridas em um contexto coerente e repleto de sentimento, surge na tela um exemplo de tudo o que esse longa representa, ele se assume com poder e com orgulho de seus sentimentos e a verdade existente nele é emocionante e envolvente. É dessa maneira que alguns elementos se tornam fundamentais para a construção desse amor de verão tão fundamental e tão forte na obra do diretor italiano Luca Guadagnino, é uma espécie de relação com o tempo, tanto como memoria, quanto como um fato que acontece num determinado período, com data de inicio e de fim, e a paixão refletindo o jogo de sedução como parte fundamental do amor que se estabelece entre os personagens principais do longa, algo que lembra  muito um sentimento de descoberta tanto da sexualidade, ou do amor por si só ou ainda como um jogo juvenil de conquista.

O roteiro de James Ivory (Regresso a Howards End, 1992) utiliza algo extremamente presente em obras que fez muito sucesso nos últimos tempos o sentimento de nostalgia, porem esse sentimento é um muito mais maduro nessa produção, não se rendendo apenas a uma profusão de referencias visual, temática ou musical, aqui a nostalgia criada esta ligada a algo que marcou profundamente o passado e por isso retorna de forma romantizada, com uma beleza trágica que somente a memoria pode realizar, como se tudo aquilo que estamos vendo fosse um filme que se passa na cabeça do personagem principal, o filme passa esse sentimento de relembrar, como se realmente estivesse sendo projetadas as memorias de um amor de verão.


                A direção de Guadagnino (A Bigger Splash, 2015) conduz a trama de forma delicada, sem pressa para desenvolver as coisas, pois o personagem principal é um jovem que esta descobrindo a si mesmo e seus sentimentos, ele dá tempo ao tempo, mas consegue criar intensidade na relação tão curta entre aqueles dois rapazes, a troca de olhares, o jogo de sedução é conduzida de maneira perfeita a ponto de você torcer pelos personagens para que fiquem juntos, em uma das sequencias mais inteligentes e interessantes do filme, o Oliver (Armie Hammer) marca um horário para se encontrar com Elio (Tymotheé Chalamet), ele então coloca um alarme no relógio para o encontro, e todas as ações a partir daquele momento são marcadas pela presença do relógio, gerando no jovem e em nós espectadores uma ansiedade ele ainda não havia sentindo e no espectador e em ver o romance enfim acontecer, o diretor faz questão de dar uma presença forte, massiva e trágica naquela contagem regressiva, tanto para que aquele intensa paixão finalmente aconteça, como também determinando algo que esta prestes a acabar.

                Me Chame Pelo Seu Nome é um filme extremamente bem feito, acertado em suas opções estéticas, onde tudo que seu diretor faz esta perfeitamente organizado para revelar algum sentido, esse relação com o tempo constrói um filme pautado nessa nostalgia  que provoca um certo maravilhamento que constrói momentos estilosos por surgirem dessa pulsão de algo marcante, por isso belo e incomum, ainda assim toda essa beleza esta ali inserida para dizer algo, tem em seu elenco vivendo seus melhores momentos na carreira com uma entrega total tanto de Chalamet quanto de Hammer, e a sensação ao fim do filme é o grito de permita-se viver com intensidade aquilo que o agora lhe oferece sem ter medo do que o futuro trará.

Veja, Reveja e veja mais uma vez, pois essa historia de amor vale a pena!

Ps: Prestem muita atenção no monologo final do filme é maravilhosos!!!


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