A Forma Da Água - Crítica


            Guilhermo Del Toro sempre foi dono de filmes que se apresentam ao respeitável publico como fabula, um conto fantástico que se desenrola como uma metáfora para além da tela, mas é aqui em A Forma Da Água que ele compreende que as fabulas dos tempos modernos é o cinema em si, e a sua força é hoje uma das únicas formas de conectar o real ao fantasioso, fazendo com que um mundo de imaginação afete o mundo real de quem esta sentado confortavelmente em uma poltrona no cinema.

            “Década de 60. Em meio aos grandes conflitos políticos e transformações sociais dos Estados Unidos da Guerra Fria, a muda Elisa (Sally Hawkins), zeladora em um laboratório experimental secreto do governo, se afeiçoa a uma criatura fantástica mantida presa e maltratada no local. Para executar um arriscado e apaixonado resgate ela recorre ao melhor amigo Giles (Richard Jenkins) e à colega de turno Zelda (Octavia Spencer)”.



            O tom da produção é fantasioso, mas uma fantasiosa romântica ao cinema, uma busca constante por tudo aquilo que se faz nos filmes, aquelas imagens que se configuram como a máxima cinematográfica, uma visão de fatos que só podem ser reais na tela de um cinema que carregam em si uma beleza e uma realidade própria desse universo magico, a questão é realmente como o Del Toro compreende essas imagens através de uma aura fantasiosa e imaginativa, fazendo com que a força de suas imagens surja de forma magica como um conto que conecta cinema com a nossa realidade.

            O filme baseia-se nas formulas e imagens dos primórdios do cinema de gênero, do horror e da ficção cientifica, dos títulos B dos estúdios Hollywoodianos que abriam as sessões de filmes grandiosos, cinema que contava com a liberdade criativa e uma expressão muito mais curiosa que os blockbusters da época, essa breve explanação sobre a produção leva a uma conclusão bastante assertiva sobre qual é o estilo do cineasta mexicano que busca se referenciar e reconstruir para construir sua fabula.


            Aqui se vê o laboratório escondido no subterrâneo, os cientistas, o bravo e corajoso militar sem medo da criatura que está ali, o contexto da Guerra Fria (marcando a constante ameaça de espionagem), o monstro milimetricamente construído. Todavia, Del Toro elege uma mulher faxineira como a narradora dessa história, promovendo uma reconfiguração nesse mundo já bastante conhecido. O que se vê em A Forma da Água é todo um gênero sendo trabalhado através de uma visão que nunca se teve. Como se o filme reapresentasse tudo por uma outra perspectiva, talvez os monstros que matam aos montes pudessem, na verdade, mostrar uma outra faceta.

            Talvez o herói na verdade fosse apenas um mau caráter brutal que não sabe usar nada além da força. Talvez o espião soviético tivesse melhores intenções que os militares americanos e assim por diante. E tudo isso é muito relevante quando se percebe que o filme é visto pelo ponto de vista feminino, que quase nunca tem voz num filme de gênero, a não ser claro, quando é apenas uma garota indefesa pronta para morrer.


            A mulher muda faz com que suas emoções sejam transmitidas de uma forma ímpar muito graças a impecável interpretação da atriz Sally Hawks, os lamentos que surgem através de algum ruído, ou até mesmo a força com que ela reproduz seus sinais visuais, às vezes numa velocidade que demonstra preocupação, ansiedade e raiva; ou na lentidão que se apresentam revelando sua tristeza e seu pesar. É essa entrega que faz com que aquela narrativa ganhe contornos de importância, que a vida de um monstro, ou um romance com ele seja tão importante como qualquer outro drama, há um peso dramático em relação àquilo, a fantasia habita o mesmo patamar da realidade.

            O cineasta sempre tentou trabalhar essa questão onde a fantasia é parte inerente da realidade, como essas duas dimensões estão eternamente ligadas. Aqui há um momento muito significativo nessa condição, quando a criatura é tirada daquele laboratório pela sua companheira, como se o filme mostrasse que a fantasia sai de seu lugar pré-determinado para ocupar uma outra forma de se expressar, o local onde vemos um monstro como aquele num filme de ficção científica se perde, o fantástico agora está nas ruas, na casa de uma moça e por isso pode mostrar outras emoções não somente o terror.


            A Forma Da Água é um filme sobre o amor da protagonista pela criatura, mas principalmente do diretor Guilhermo Del Toro ao cinema, ele insere beleza e futurismo na fotografia criada para os anos sessenta que nem existia na realidade, constrói uma aura magica em torno de uma historia que só poderia existir na grande tela de um cinema, gera um sentimento de fantasioso perante as imagens cinematográficas, com cor e forma de cinema, o diretor e seu filme falam com o publico e dizem que é apenas dessa forma talvez seja possível falar da cruel realidade que nós estamos inseridos,  onde apenas o que se vê nos filmes possa realmente transformar a relação entre o espectador e sua verdade, fantasia funciona criando uma ponte imaginaria com direção a realidade.


Comentários

  1. Acho que o roteiro deste filme foi muito criativo e foi uma peça clave de êxito de A Forma da Água. Michael Shannon fez um ótimo trabalho no filme. Eu vi que seu próximo projeto, Fahrenheit 451 será lançado em breve. Acho que será ótimo! Adoro ler livros, cada um é diferente na narrativa e nos personagens, é bom que cada vez mais diretores e atores se aventurem a realizar filmes baseados em livros. Acho que Fahrenheit 451 sera excelente! Se tornou em uma das minhas histórias preferidas desde que li o livro, quando soube que seria adaptado a um filme, fiquei na dúvida se eu a desfrutaria tanto como na versão impressa. Acabo de ver o trailer da adaptação do livro, na verdade parece muito boa, li o livro faz um tempo, mas acho que terei que ler novamente, para não perder nenhum detalhe. Sera um dos melhores filmes de ficção cientifica acho que é uma boa idéia fazer este tipo de adaptações cinematográficas.

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