Thor: Ragnarok - Crítica



            A Marvel Studios passa por um momento de transformação e amadurecimento do sucesso que atingiu nos últimos nove anos nos cinemas, um momento em que claramente se percebe o esgotamento de uma formula que marcou os filmes do estúdio desde o lançamento do primeiro Guardiões Da Galáxia projeto escrito, dirigido e idealizado pela mente insana de James Gunn que trouxe um frescor a sequencia constante de filmes de super-heróis que somente cresce nos últimos tempos, dando mais liberdade aos diretores para criar os filmes chega nessa quinta feira dia 26 de Outubro Thor: Ragnarok, terceiro filme do Deus do Trovão que teve dois filmes anteriores bastante medíocres em comparação com seus companheiros de casa, mas que recebe agora a oportunidade de quebrar de vez todas as correntes com uma aventura intergaláctica sem limites, colorida e rock’n roll.

            A produção dirigida por Taika Waititi (O Que Fazemos Nas Sombras, 2014) abraça com força a comedia e isso acaba gerando consequências, uma delas é que o filme se torna bastante envolvente, divertido e realmente faz rir ao longa da sua projeção em muitos momentos e que consegue manter uma trama próxima a uma unidade narrativa coerente, todavia há também uma mudança típica ao que dizia respeito dos filmes anteriores do Thor, algo que nunca foi realmente levado a fundo pela Marvel, esse mundo muito mais próximo ao fantasioso que tentava ser desenvolvido de forma mais seria e realística é jogado fora, o que se vê é um filme que incorpora praticamente todos os elementos visuais, narrativos e tresloucados que James Gunn deu aos Guardiões.


            Asgard reino do Deus do Trovão vive sob a ameaça da vilã Hela interpretada de maneira perfeita pela atriz Cate Blanchett, uma filha renegada pelo Rei Odin que almeja retornar seus tempos de conquistas intergalácticas, mas em sua maioria Thor: Ragnarok se passa em Sakaar um planeta que mais parece uma espécie de lixão governado pelo GrandMaster (Jeff Goldblum) um louco que gosta de possuir escravos e coloca-los para batalhar entre si por pura diversão. Nesse local Thor é capturado por Valquiria (Tessa Thompson) e torna-se um dos escravos do Grandmaster e é obrigado a lutar em suas arenas, em uma dessas batalhas ele encontra seu companheiro de trabalho Hulk (Mark Ruffalo).

            O filme parece ser bastante original e alguns momentos é, mas a maior parte dele lembra o filme de James Gunn que foi quem introduziu o humor de forma mais aberta aos filmes da Marvel, uma comedia mais irônica, o filme de Waititi se baseia e muito no molde de Guardiões, até mesmo o visual de Thor Ragnarok lembra a excentricidade de Gunn, o colorido dos anos oitenta toma conta do filme do herói, sem ter nenhuma grande justificativa, mas o mais estranho é que esse clima e até mesmo o letreiro e a trilha sonora remetem a um tempo, mas em momento algum condiz com a narrativa desenvolvida ao longo da projeção.


            Tudo é muito bem feito tecnicamente impecável, mas as coisas parecem ser inseridas ali por uma mera experiência de uma nova formula Marvel que deu certo, sem colocar opções estéticas que traduzam o mundo daquele personagem especifico de forma original e inovadora como o filme sugere ser, o filme é bastante inconsistente onde os pontos que dão certo na produção já forma vistos no mesmo modelo a pouco tempo com atores e personagens diferentes, sendo assim ao longo da nova produção do Deus do Trovão já começa a perceber o cansaço dessa nova formula narrativa achada pela Marvel através de James Gunn de fazer filmes.


            O roteiro de Eric Pearson (Curta Marvel: Agente Carter), Craig Kyle (Animação Hulk Vs. Thor, 2009) e Christopher Yost (Thor: O Mundo das Trevas) é o grande problema do filme, com uma narrativa que se estende de mais em alguns momentos, e que teima em voltar para explicar fatos, ao invés de ser mais concisa, a sensação que fica para quem assiste é realmente que o universo de Thor necessita de uma série de elementos para parecer mais interessante e complexo, nessa série de idas e vindas do filme vamos a Terra, voltamos para Asgaard, chega a Sakaar até ficar se dividindo entre Sakaar e Asgaard algo que parece tirar a atenção da trama a todo o momento. As participações de outros personagens do Universo Cinematográfico da Marvel são mais um “fanservice” do que qualquer outra coisa, e as inúmeras explicações que alguns personagens precisam fazer para que a história seja entendida pela publico geral, como na revelação do passado de Hela são cansativas e bastante desinteressantes.


            Thor: Ragnarok é uma aventura divertida, engraçada e com alguns momentos bastante inventivos, consegue o talento do diretor Taika Waititi empregar um timing cômico ao filme que flerta com o besteirol, dirige as sequencias de ação de forma bastante interessante e algumas são bastante originais, infelizmente o filme não é feito somente de momentos perfeitos como gostaríamos que fosse, e fica marcado de forma brusca pela sua irregularidade narrativa, a partir da nova formula de sucesso da Marvel com filmes coloridos e irônicos, é um filme que cansa em alguns momentos, quando se afasta dos momentos formulados por James Gunn onde consegue se destacar e fazendo rir, divertir e entreter. Mas o ponto fraco da casa das ideias ainda é a falta de coragem de dar mais liberdade aos diretores, e ficar preso de mais a formulas apenas porque deram certo antes, talvez tenha chegada a hora de renovar de vez a formula e criar uma equação que se adapta de verdade a cada herói.



Comentários