David
Fincher (A Garota Exemplar, 2014) é um dos melhores diretores na atualidade,
poucos trabalham com a sua compreensão de tempo, e em sua nova produção
MIndHunter já renovada para segunda temporada pela Netflix, ele deixa claro que
não esta nem um pouco preocupado com como as produções de televisão nos últimos
anos estão mais aceleradas, com pressa de que as coisas acontecem e que muitas
coisas acontecem na tela para prender a atenção do espectador, Fincher prende a
nossa tensão exatamente pelo oposto ao não nos mostrar, mas nos dizer ela cria
uma ansiedade e uma curiosidade viciante e marcante em todas as suas produções.
A série que
estreou no ultima dia 13 de Outubro no canal por streaming tenta traçar o
perfil “Psicocomportamental” de assassinos em série, tenta desvendar e elucidar
o que faz esses homens tomar certas decisões, quais podem ser as obsessões em
comum e de onde surge o traço de psicopatia que os leva a cometer crimes
aterrorizantes, além disso, a produção se aprofunda nas relações dos detetives
que aceitam o desafio de pesquisar essas pessoas e constrói ao longo dos episódios
uma ligação intima entre os observadores e os observados, parece uma premissa básica
e muito simples, mas com o comando de David Fincher se torna um trabalho de
analise de personagens mais profundo já feito nos últimos tempos.
Acompanhamos dois agentes do FBI determinados
em estudar a Ciência Comportamental de Serial Killers, Holden Ford (Jonathan
Groff) e Bill Tench (Holt McCallany), eles recebem o auxilio da Doutora Wendy
Carr (Anna Torv) uma psicóloga especialista em estudar o comportamento humano,
com o apoio da doutora vemos surgir a perfeita fusão entre a visão policial e a
visão acadêmica necessária para a construção do estudo e dos perfis dos
estudados. A intenção deles é fazem com que a sociedade e o departamento de
policia americano compreendam que os crimes não são circunstanciais, e sempre
há um motivo maior por trás de cada ação.
A montagem
do diretor em perfeito casamento com um roteiro que não tem pressa em
desenvolver sua narrativa, consegue determinar a identidade e características peculiares
de cada assassino e desenvolve com maestria seus talentos macabros e a relação
da dupla policial, as cenas de interrogatório são extensas e começam como um
simples questionário, mas ao longo percebemos a cena se tornar uma profunda
analise da profissão e vida dos envolvidos.
O desenvolvimento narrativo em ritmo lento e direção impecável de David
Fincher entrega uma evolução gradativa a série bastante climática e sem medo de
parar para respirar, pois sabe que o tema que esta lidando é bastante pesado e
assustador, o diretor traz sua habilidade característica de não se preocupar em
acelerar os casos ou tornar a edição mais ágil, o importante são os
personagens, as atitudes que eles tomam, sejam elas as mais simples.
A produção
não tem tiros, nem sangue, muito menos violência durante os dez episódios,
ainda assim o refinamento técnico em alguns momentos salta a nos, a fotografia pasteurizada,
e a caracterização quase morta de todos os lugares deixa um clima mórbido a
serie, assim como os closes nas entrevistas, ainda que tenhamos um roteiro
recheado de questionários, o diretor dá espaço ao silencio e aproveita ao máximo
o seu elenco, tanto o principal quanto os atores coadjuvantes, todos os
personagens dessa série são muito contidos e crescem de acordo com a situação
em que são expostos, não há espaço para afetações, o horror não é mostrado é
falado, descrito nos mínimos detalhes para que nós criemos as imagens em nossas
cabeças.
Mindhunter é
de longe uma das melhores produções dos últimos tempos, com um ritmo lento se
afasta muito das séries investigativas mais populares do mundo repleto de cenas
de ação e exageros, aqui não há necessidade de descobrir um mistério ou apontar
um culpado, o problema a ser resolvido é em relação ao psicológico de cada
personagem sejam eles bons ou ruins, faça um favor a si mesmo e assista a
série, tenha calma paciência, pare entre um episodio e outro, mas finalize,
porque essa é uma produção que merece ser assistida e dirigida de forma
diferente, mas o sabor no final é delicioso. Que venha a segunda temporada o
quanto antes!
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