Duas De Mim - Crítica




            É fato que existe uma overdose de comédias nacionais nos cinemas pelo Brasil afora, poucas dessas produções são realmente boas o suficiente para merecerem espaço na grande tela, a maioria se equipara em nível de produção visual e qualidade cômica com produções da Rede Globo, pintadas sempre em uma mesma atmosfera gritante, carnavalesca, fotografia com tons fortes e enquadramentos comerciais, o interessante em algumas dessas produções são as escolhas de temas a serem abordados pela narrativa, girando ao redor de questões sociais pertinentes como é o caso de Duas De Mim, filme que a Paris Filmes me convidou para assistir e eu te conto agora a minha opinião.


            Somos apresentados a Suryellen (Thalita Carauta) ela tem dois empregos, cuida da casa e de uma irmã folgada, acorda todos os dias às cinco da manhã e chega em casa somente a noite, tem ainda um filho cujo pai simplesmente caiu no mundo se negando a ajuda-la a criar a criança. Em uma mistura que habita a insolência e o trato desumano das pessoas com ela, sendo diariamente assediada por homens no meio da rua, ela não aguenta mais, é quando de repente aparece uma senhora vendendo um “Bolo Dos Desejos” no meio da rua, com que a protagonista confidencia toda a sua amargura com a vida que leva, terminando a fala com “eu queria que tivessem Duas De Mim”. Eis que como um passe de magica ela se depara com um clone seu, extremamente oposto dela, desbocada, elétrica e sem levar desaforo pra casa.



            O grande problema do filme é o roteiro que conta com uma narrativa extremamente debilitada, enquanto que a primeira metade do filme é muito mais uma apresentação literal ao espectador sobre a personagem principal e seu clone sem dar muito importância a trama que ela esta inserida, essa escolha seria interessante se não fosse tão monótono e desinteressante baseando-se em eventos repetitivos e sem sal, a parte final da projeção quando nos encaminhamos para o desenlace da trama ela é tão previsível e tudo usa de lugares comuns como um apoio que acaba por fazer o longa perder muito rápido o interessante do publico aquelas interessantes temáticas que foram apresentadas nos minutos iniciais.


            O destaque do filme de longe é o carisma e timing cômico da atriz Thalita Carauta que entrega de forma inteligente e simpática a dualidade de personalidades complementares das personagens que interpreta, soando como duas faces de um mesmo ego. Enquanto uma Suryellen é mais controlada e sóbria marcas da vida cheia de responsabilidades que tem, a outra é livre desse enquadramento do cotidiano, é sua face internalizada, elétrica, bagaceira, desbocada, impulsiva, baladeira e inconsequente, uma joga clichê do longa mais que conecta o publico muito rápido por empatia através do enorme talento de sua protagonista.


            Duas De Mim promete tocar em feridas abertas interessantes como o dia-a-dia das mulheres que são depreciadas, objetificadas, sofrendo assedio em transportes públicos, que são pai e mãe de seus filhos e que carregam o peso de ter jornada dupla de trabalho, mas esses temas infelizmente por conta de um roteiro artificial e ingênuo de mais nunca se aprofunda de verdade nas historias que deveria, faltando coragem de se jogar, com um visual sem identidade e um sentimentalismo barato extremamente forçado que se torna cafona o filme se torna uma pena, pois a ideia original era muito interessante.


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