Blade Runner
foi um filme a frente de seu tempo, incompreendido por muito não chegou nem
perto de ser um sucesso de bilheteria, mas ao longo do tempo o filme, produção
e trama foram virando cultuando por todos, ganhando áurea de obra-prima sci-fi,
muitos beberam da sua originalidade para criarem novos universos, novos
personagens que sempre remetiam ao clássico oitentista criado por Ridley Scott
um gênio quando se trata de criar universos interessantes, agora mais de trinta
anos depois do lançamento do primeiro filme chega aos cinemas a sequencia Blade
Runner 2049 carregando o peso do culto ao original o filme chega aos cinemas
com a intensão de expandir e explicar o universo, mas sem tirar dele o clima de
interpretação individual que pairava no antecessor.
No mundo de
Blade Runner 2049, quem comanda tudo é Niander Wallace (jared Leto) ele lidera
a criação desses novos androides, tendo total interesse no desaparecimento
daquela geração antiga, o empresário e dono daquele futuro inóspito esta atrás do
mesmo segredo que o agente K (Ryan
Gosling) tem a missão de investigar. Nessa mitologia revelada e ampliada entre
uma e outra investigação ocorreu um grande blackout que apagou do sistema todos
os registros antecedentes ao período de 2020, a produção é sobre essa falta de
registro, sobre um código que se perdeu que confunde quase que todos ao redor
que não conseguem mais distinguir o que é real naquele mundo e o que é
fabricado.
O longa
assume para si um tom de mistério que se prolonga ao longo da projeção, como se
tudo o que estamos vendo fosse passível dessa desconfiança incessante, um mundo
construído a partir de imagens que não podemos acreditar, ou ao menos
interpreta-las, essa questão duvidosa permeia o filme fazendo com que nunca se
entenda a verdadeira relação entre o artificial e a busca pela verdade de K, é
como se ele estivesse em busca do real em um lugar baseado num padrão
pré-determinado e construído, é essa descrença que pauta a estética do filme,
repleto de telas que muitas vezes podem ser identificadas.
O diretor
Dennis Villeneuve parece compreender completamente aquele mundo criado por
Ridley Scott, entendo que a força do primeiro filme era justamente a concepção
visual, um mundo identificável nos primeiros segundos do longa, se o original
foi responsável por criar uma espécie de caracterização da ficção cientifica
que até hoje percebemos homenagens ao filme, Villeneuve realiza o seu trabalho
buscando ampliar o mundo, partindo do pensamento de não apenas replicar a
concepção visual do filme original, não aderindo ao neon noir do primeiro filme
apenas por satisfação nostálgica, mas buscando destrincha-lo para realizar a
partir disso o seu próprio universo.
A fotografia
de Roger Deakins é algo sobre humano, inserida nessa mesma logica, aqui até o
constante esteticismo do fotografo faz sentido, como se aquele mundo de 2049
sempre possuísse uma luz controlada, uma iluminação que abra os espaços para
essa estética sempre bela, uma artificialidade proposital constante, basta
reparar com atenção no edifício do vilão Wallace, uma espécie de pirâmide que
emana uma luz parecida com a luz solar, revelando o desejo daquele homem por
recriar um mundo real, mas é o fabricado que da o tom daquele ambiente como uma
espécie de sol privativo.
O roteiro de
Hampton Fancher (Blade Runner, 1982) e Michael Green (Logan, 2017) consegue
elevar a potencia do filme em comparação com o original, mas há nele uma
sensação de presunção que por muito pouco não prejudica a obra em si, sempre
com um tom profético e profundo a trama, a dupla de roteiristas parece
acreditar ser necessário a explicação de todas as informações existentes na
narrativa, ainda que haja uma peça faltante essa busca por completar o
quebra-cabeça, nem tudo é complexo e surpreendente como eles acreditam,
chegando ao ponto de colocar flashbacks do filme original como forma de inserir
o espectador na narrativa, algo que aposta na ingenuidade dos espectadores mais
dispersos.
Blade Runner
2049, é um filme repleto de informações que tem o claro objetivo de escrever um
novo capitulo de uma mitologia cultuada por mais de trinta anos, é um filme que
se insere nessa incerteza que até pode entregar essa peça que esta faltando,
mas a sensação ainda é de não crer profundamente naquilo tudo, ainda é cercado
pela mesma curiosidade que resultou na sua realização, o filme toma o seu tempo
para desenvolver a sua narrativa e ao longo de mais de 2 horas e meia de filme,
tem o prazer em questionar e criar um universo artificial repleto de
desconfiança, algo que prova o quão vivo e interessante é o mundo criado por
Ridley Scott em 1982.
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