Como Nossos Pais - Crítica



            Lais Bodanzky é um dos meus diretores preferidos desde Bicho de Sete Cabeças de 2000, filme que alçou o ator Rodrigo Santoro a outro patamar de atuação, a delicadeza, suavidade, e calma com que trabalha temas pesados, difíceis, espinhosos é um carinho aos olhos do espectador mais avido por produções nacionais de boa qualidade, um problema enfrentado pelas produções de cinema é a televisão, pois ao se prestar atenção no nível de qualidade que a televisão brasileira alcançou nos últimos anos eleva o nível de dificuldade em surpreender o espectador, o grande vencedor do Festival de Cinema de Gramado, Como Nossos Pais é o novo filme da diretora, eu fui conferir e te conto agora minha opinião.

            O filme é uma historia sobre uma mulher que vai gradualmente enfrentando a estrutura machista de sua família e do meio em que esta inserida, é um filme sobre relações humanas, os laços que nos une como família e ainda sobre quem somos e o que nos tornamos, o grande trunfo do filme é a direção precisa de Bodanzky que traduz através da câmera uma delicadeza as pesadas situações dentro da narrativa que se projeta a contar, sendo muito tocante a construção que da para cada um dos personagens e as nuances dos mesmos em cada uma das cenas.




     A diretora entrega a produção um tom diferente a seu novo filme, com características mais doces e realistas, mas sem tirar peso do assunto que esta tratando, ela equilibra com perfeição o lado meigo e mais amago do filme, sempre com uma delicadeza bonita de ser assistida, sem aquela agressividade que esses que vos escreve ama do filme Bicho de Sete Cabeças, mas com uma intensidade singela com a qual tece os seus vários conflitos humanos do roteiro.



            O roteiro de Lais e Luiz Bolognesi (Bicho de Sete Cabeças) consegue impor um vigor e um atrevimento a Rosa (Maria Ribeiro) que a tornam em poucos minutos uma protagonista marcante e com apelo popular instantâneo como o espectador, a habilidade da dupla de roteirista é tanta que faz isso sem tirar a fragilidade que o ser humano tem, fica claro que o filme tem personagens realistas, desenvolvidos de forma sensível e verossímil de complexidade, comoventes por sua humanidade, faz com que um eco de compaixão para com os sofrimentos e tormentas que permeiam os protagonistas dessa historia.


            O elenco do filme é um time de craques, sem eles e a qualidade com que entregam suas performances a produção não funcionaria, mas o destaque especial e gritante é pela avalanche de emoções entregues por Maria Ribeiro em cena, a diretora consegue extrair da talentosa atriz um espetáculo a cada novo ‘take”, com originalidade e acima de tudo simplicidade todos os elementos dentro da narrativa que tem a disposição são manuseados de forma precisa, como a denuncia ao machismo, expondo-o em situações pragmáticas, dando conotação a seu caráter estrutural e diluído nos subconscientes da nossa sociedade e escapando de qualquer forma de transforma-lo em uma obra que soe falsa, vazia ou artificial.



            Como Nossos Pais, levanta as questões sobre o machismo que impera nossa sociedade de forma que todos os tipos de mulheres se sentissem inclusas na narrativa desenvolvida pela diretora com perfeição, elenco de primeira que entrega cada cena mais impactante que a anterior, provam que cinema nacional de qualidade existe ainda e com força, com mais trabalho delicado e suave falando sobre temas nacionais e difíceis, nas mãos de Lais Bodansky vira obra de arte dentro do cinema brasileiro, que venham mais filmes nacionais excelentes que nem esse.


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