OKJA - Crítica



            A crise hollywoodiana por produções originais interessantes, fugindo dos blockbuster e suas franquias, ou dos remakes, reboots e adaptações. Falta algo novo, alguma coisa que chame a atenção que seja interessante não somente pelos efeitos visuais, mas também por uma narrativa que crie curiosidade no espectador o envolvendo em sua trama, talvez buscando essa originalidade a Netflix fosse atrás do excelente diretor Sul-coreano Bom Joon-Ho que dirigiu o interessante O Hospedeiro (2006) e o ótimo Expresso do Amanhã (2013), mas na ultima sexta-feira ele se lançou no mercado mundial através do canal por streaming com OKJA, o filme que causou no Festival de Cinema De Cannes e eu te conto agora a minha opinião.

             A empresa frigorifica Mirando, comandado pela extravagante empresaria Lucy Mirando (Tilda Swinton), nos é apresentado no inicio do filme como se estivéssemos sentados em uma das cadeiras da coletiva de imprensa no ano de 2007, quando Lucy informa aos presentes a descoberta dos “super-porcos”  uma espécie nova de animal geneticamente desenvolvida para que seja mais deliciosa do que qualquer outra já provada. Para que promovesse o seu futuro novo produto, ela organiza uma espécie de competição entre fazendeiros do mundo todo na qual: durante o período de 10 anos eles seriam responsáveis por cuidar e tratar desses animais da forma tradicional de sua cultura e ao final venceria o fazendeiro cujo super-porco fosse o mais bem cuidado nesse período, a partir daí somos apresentados a dupla carismática formada por Mija (Ahn Seo-Hyun) e sua super-porca OKJA que cresceram juntas como melhores amigas no alto de uma montanha no Japão, mas o que ela menos espera é que a empresa frigorifica fosse levar a sua fiel escudeira para Nova York (EUA) para que seu destino final fosse em um abatedouro, para livrar sua amiga da morte que se aproxima a garota foge de casa e percorre o mundo todo para resgata-la, e no meio desse caminho de resgate ela encontra um grupo de defesa dos animais chamado “Frente De Liberação dos Animais”, que promete ajuda-la.


            Okja é um filme tecnicamente muito bem realizado, dirigido e roteirizado de maneira elogiável, a produção apresenta alguns dos principais traços do diretor, o forte apelo emocional relacionado a força afetiva que levam alguns dos protagonistas a se sacrificarem em prol das vitimas em potencial, a fuga fácil por um herói viril, idealizado por figuras humanos, sem banalizar e naturalmente vulneráveis. Contudo aqui também é marcado por certos acréscimos ao excelente trabalho do diretor, ele introduz muitas cenas de ação, fator não muito visto em suas produções, mas  a grande diferença que pode ser vista é que nessa produção ele diminui a intensidade do aspecto pessimista de sua linguagem e faz seu filme mais otimista é uma produção mais graciosa do que o sul-coreano costuma fazer.


            A relação afetiva entre Mija e OKJA é a força motriz do filme se encaixando naquele perfil da “força afetiva que leva alguns protagonistas a se sacrificarem em prol das potenciais vitimas”, ganhado traços que lembram Meu Amigo Totoro, o filme é tão carismático graças a essa amizade entre os protagonistas que remete as meigas amizades das fabulas infantis, contudo a produção tem uma trama excelente, protagonistas cobertas de empatia e uma direção que conduz seu filme com muita intensidade. Um dos pontos altos do filme é a forma como defende a luta contra o assassinato de animais para o consumo, a batalha contra o abatedouro mostrado de forma cruel e fria, e contra a tortura animal,  o nível de violência é reduzido em comparação a seus filmes anteriores, porem Bong ainda preserva alguns momentos para utilizar como denuncia no longa, a violência mostrada para o tratamento e assassinato de animais nos confins do frigorifico Mirando Co., garante um impacto impressionante e extremamente revoltante.


             OKJA é um filme de elenco estrelado, com personagens muito bem defendidos por Tilda Swinton, Jake Gyllenhall cujos personagens tão caricatos e exuberantes seriam papeis impossíveis para atores desse estilo, mas abraçam a loucura de suas personas e entregam cenas brilhantes, a jovem Na Seo-Hyun que consegue explorar muito bem a essência de sua personagem e seu laço de amizade com a “super-porca”, um roteiro que entrelinhas é um tapa na cara do mundo capitalista atual, ao mesmo tempo em sua superfície mais límpida é uma linda historia de amor. Não, não é definitivamente o melhor trabalho de Bong Joon-Ho mais ainda sim é um trabalho que refresca os olhos cansados do mesmo visto nos últimos tempos, palmas a Netflix pela aposta e por acreditar no trabalho e criatividade de mercados além mar.



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