Dunkirk - Crítica



Para um grande numero de pessoas Christopher Nolan é considerado um gênio em sua profissão como diretor de cinema, em nível de alguns compararem-no com Steven Spielberg ou até mesmo Kubrick, de forma forçada em algumas rodas de conversa devo lhes informar, Nolan tem uma forma particular de pensar o cinema, mas gênio seria um exagero, seu novo longa “Dunkirk” chegou aos cinemas nessa quinta-feira (27), os críticos americanos tem colocado como uma obra prima em IMAX, outros dizem ser o melhor trabalho do diretor, mas será que é isso tudo? Não se preocupe, é só seguir lendo que descobrirá a minha modesta opinião.

Dunkirk mostra a evacuação de soldados da Inglaterra de uma zona cercado por alemães durante a Segunda Guerra Mundial, dando valor as diferentes formas de sobreviver ou vencer essa batalha, uma luta que não gerou nenhuma conquista física, mas garantiu a vida de muitos soldados. O filme um longa de guerra com excelência, lembra muito os filmes que foram produzidos logo após o termino do combate, onde os festejos por conta das vitorias e conquistas daria lugar a sombria vida de quem sobreviveu a guerra, a tensão de quem enfrentou batalhas que pareciam infindáveis e carregara com sigo os fantasmas de anos nos campos de combate.


Nolan se baseia em preceitos básicos do cinema para se colocar nesse lugar bem especifico de período temporal, em um primeiro momento a obra parece se desvincular daquilo que o diretor vinha construindo como carreira cinematográfico, com filmes grandiosos, com pretensões narrativas pesadas, carregando sempre consigo uma complexidade desnecessária em alguns momentos, até mesmo a duração do longa de 120 minutos é menor que suas produções anteriores, a produção se apresenta como uma obra mais concisa que busca ser mais diretas nas ideias que quer desenvolver, sem que para isso precisa colocar entre linhas as suas temáticas.

O filme é sobre o esforço, mostrando como sobreviver é uma guerra diária, sem gloria e nenhuma arma, trazendo homens completamente despidos de esperança que conseguem apenas pensar em como vencer a resistência do mundo a seu redor, nessa narrativa todos os trajetos possíveis e atalhos impensáveis são permitidos, a missão é muito menos por um país exclusivamente, mas sim por como se manter humano em uma situação de risco eminente, seja lá o que isso signifique para você. O longa aborda a guerra de maneira incessante, os personagens são soldadinhos de brinquedo não possuem nomes, são apenas soldados ou homens de muito boa vontade que batalham com todas as suas forças para sair de um local que perdeu por completo o seu senso de humanidade.


Como um bom filme de guerra que é, o que salta aos olhos do espectador não é uma filosofia ou qualquer tipo de profundidade das características dos personagens em cena, mas sim a tensão e o ritmo frenético de fuga. Dunkirk assume o poder máximo do cinema moderno, o de imergir o publico em sua trama, fazendo com que o publico participe daquilo que é visto na tela do cinema, o objetivo do longa é fazer com que a audiência experimente como é se sentir completamente encurralado naquele local, não ter para onde correr, nem se proteger, Nolan nos coloca a bordo no convés dos navios, nos cockpits dos aviões e nas longas corridas nas praias a céu aberto onde a qualquer momento pode ser seu ultimo junto aqueles homens.

Essa experiência de imersão é alcançada porque o diretor utiliza-se de uma montagem de filme impecável, ele nos apresenta em determinado momento três historias que ocorrem ao mesmo tempo e que sempre estão em um mesmo ponto da narrativa, se uma está no clímax à outra também está. A trilha sonora de Hans Zimmer consegue conduzir o espectador em um turbilhão de tensão crescente, conseguindo dinamizar os momentos dramáticos e de suspense de maneira equilibrada colocando a audiência na mesma sensação dos personagens no filme. A fotografia do holandês Hoyte Van Hoytema (Interstelar, 2014) é um elemento utilizado como transformador de todas aquelas cenas de ação em algo realista, seja por suas câmeras acopladas nos atores, ou pela milimetricamente calculada fotografia em película, dando um que de documentário antigo.


Isso tudo demonstra a busca incansável de Nolan em entregar um cinema de excelência, mas nessa busca ele desenvolve uma obsessão pelo diferente. Ou seja, o diretor e roteirista não permite em nenhum momento que Dunkirk seja um filme simples, há nessa escolha uma motivação em se distanciar do feijão com arroz, como se ele precisar provar algo ainda para os críticos ou para si mesmo, fazendo com que seu filme carregue o peso de mostrar algo a mais na concorrida lista semanal de bons filmes que estreiam mundialmente. Se de um lado esse ponto obsessivo e bastante interessante durante a projeção chama a atenção mostrando o domínio narrativo do diretor, demonstra que essa fuga do básico caí em alguns momentos em uma tentativa forçada de demonstra um cinema de autoria, principalmente na utilização da musica forçando todos os tipos de sensações em que esta sentado na cadeira do cinema, sendo por uma tensão sufocante ou momentos climáticos de ação. Nolan utiliza todos os seus recursos para o bem extremo ou para o mal extremo na busca do envolvendo completo do publico, mesmo que isso as vezes necessite ser forçado.


            No ato final o filme distancia-se do inicio promissor, onde Nolan exige que seus personagens participem de um discurso longo sobre exaltação da vitória pela sobrevivência, aqueles homens que não tinham nome carregam a partir daquele momento a tarefa de transmitir uma mensagem de maneira rápida, mostrar que tudo aquilo não é diversão, mas sim um filme sobre os problemas da guerra, seguindo a formula de um filme mais profundo e que quer ser relevante, o diretor tenta embalar seu filme em uma embalagem de realismo profundo que até horas atrás não aparentava em sua obra.


            Dunkirk é um filme visualmente lindo, com uma trilha sonora brilhante, e uma fotografia rica, mas como muito outros filmes com essa temática de guerra faz, transforma a luta por sobrevivência em diversão, mesmo com vergonha de se assumir, achando que consegue vender um filme mais profundo, o fato do cineasta talentosa, diga-se de passagem, não parecer entender que às vezes nas frases mais simples, na gramática mais básica, no cinema de gênero é dito muito sem soltar uma palavra, sem nada ser filosófico, é louvável a tentativa de Christopher Nolan em tentar fugir do obvio, do simples, do natural e buscar o famoso cinema autoral, mas no final das contas seu longa não entrega o produto da maneira que desejada.


Comentários

  1. Gostei da sua crítica. Pessoalmente achei um filme ótimo. Alguns filmes de Christopher Nolan geraram polêmica ou receberam bastante crítica e verdadeiros êxitos. Acho que a chave é o profissionalismo que ele tem e sua atenção em cada detalhe em todos os trabalhos na Christopher Nolan filmografia. Este último filme foi uma surpresa pra mim, já que foi uma historia muito criativa que usou elementos innovadores. Mais que filme de ação, é um filme de suspense, todo o tempo tem a sua atenção e você fica preso no sofá. Se alguém ainda não viu, eu recomendo amplamente, vocês vão gostar com certeza.

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