Se tem um meio que a televisão tem encontrado dificuldade de bater pela variedade de tramas, interligadas e plot-twists anárquicos, é o meio político, a quinta temporada da aclamada House Of Cards por exemplo, chegou ao canal de streming Netflix em meio a mais um escândalo político no Brasil, e dois dias depois da estreia o presidente americano Donald Trump anuciou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, como o presidente Frank Underwood conseguiria vencer tantos escândalos reais? Eu assisti aos treze episódios e te conto minha opinião.
Na temporada anterior vimos o início da campanha eleitoral com Frank Underwood (Kevin Spacey) candidato pelos democratas, contra Will Conway (Joel Kinnaman) representando os republicanos, os produtores resolver continuar a contar essa trama durante a primeira metade da série se arriscando a cair no monótono e sonolento arco, podendo cansar o espectador de cara, mas House Of Cards supera isso com um elemento simples um texto impecável, que consegue dinamizar essa narrativa de forma sensacional. Conway é desenvolvido de forma aterrorizante a ponto de se tornar um oponente a altura para Frank, a caminhada dos dois personagens ao longo da campanha eleitoral é mostrada de maneira tão crível que surpreende, deixando a dúvida ao longo dos episódios de quem sairá vencedor.
Os produtores Melissa James Gibson e Frank Pugliese deixam de certa forma muito claro que o resultado das eleições norte-americanas não é o foco principal em que estão determinados a mostrar, mas sim os bastidores, as intrigas, as estratégias políticas o processo como um todo e o impacto que ele causa nos personagens em busca de alcançar seus objetivos. É interessante como eles desenvolvem o arco de Will Conway que ao longo da trama precisa mudar a forma que lida com as estratégias ofensivas arquitetadas pelo casal Underwood, que claro em nenhum momento aceitarão a derrota, Frank por sua vez, se torna ainda mais frio e calculista, deixando sua raiva transparecer algumas vezes, o que ao tempo todo se mistura as suas falas irônicas, principalmente quando quebra a quarta parede e fala diretamente para nós jogo de câmera que nessa quinta temporada é bastante utilizado e de forma inteligente, percebemos a intenção dos produtores de dar poder e força política a Claire (Robin Wright) como figura respeitada, fazendo com que ela seja melhor vista pelas pessoas a sua volta, tendo uma figura mais respeitada até mesmo que seu marido.
A montagem de arcos aqui é feita mais uma vez de maneira inteligente e misteriosa, o espectador se torna parte da história ao tentar montar esse quebra cabeças com peças soltas jogas a cada episódio, o roteiro não busca o obvio, ao contrário dinamiza esse jogo de politicagem de maneira espetacular, somos envoltos a tramas com informações incompletas que nos é passada de forma a criar mais curiosidade pelo quem vem a seguir, e somente conseguimos ver o que se passa ali mais posteriormente na história, algumas vezes o excesso de informações pode confundir o espectador mais descuidado mas nada atrapalha a experiência total, já que as respostas são jogadas na nossa cara para causar choque e espanto com a proximidade com a realidade.
Nunca ficou tanto claro o talento dos protagonistas que em um trama que poderia ser morna, ou causar cansaço ao espectador, deixa no talento de Spacey e Wright o show de interpretação, a excelência dos dois já não surpreende, mas a cada novo episódio e pela forma com que entregam suas cenas fazem com que torcemos por eles, independendo do quão horripilantes sejam suas ações, a distância do casal causa curiosidade a quem assiste, querer saber se eles estão juntos pela conveniência do poder conquistado, ou pelo amor que sentem um pelo outro é uma dúvida que paira a Casa Branca e talvez seja um segredo que somente o casal Underwood possa responder mas não lhes é conveniente, alias a residência presidencial seja a melhor forma de mostrar o quão bem retratado é esse isolamento do casal, nas cenas a noite, mostram a solidão dessas duas pessoas o isolamento, utilizando de uma iluminação mais fraca e planos que deixam claro o quão vazio é o ambiente, ocupado por Frank, Claire e seus seguranças.
House Of Cards talvez seja uma das produção da Netflix que melhor se atualizaram de forma inteligente, fazendo com que a serie cada temporada melhore a anterior, escolheu uma narrativa na primeira metade da temporada que facilmente poderia cair na repetitividade, mas com um elenco afiado, um roteiro redondo, e um texto espetacular a série foge da trivialidade e quando precisa revoluciona sem medo de ousar, mostrando como a saga dos Underwood ainda tem muita história pra contar, se escora em acontecimentos do nosso cenário política mundial atual, ao mesmo tempo em que aprofunda seus personagens principais se renovando, e melhorando a narrativa anterior, entregando um final que nos deixa de estomago torcido esperando pelo sexto ano da produção que se Reed Hastings quiser a Netflix irá fazer.
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