Convenhamos a realidade atual não apenas do Brasil, mas do mundo já nos insere em um filme de terror assustador e pior diário, onde cada dia notícias mais assustadores aparecem para puxar nossos pés para uma realidade surreal, mas fazer com que um tema atual tenha evidencia de forma cinematográfica, bem distribuído em um longa-metragem, não era para ser das tarefas mais fáceis, mas Corra (Get Out) mostra uma organização de tudo o que quer, sabendo se colocar muito bem no gênero que escolheu estar, e compreende com maestria o gênero de terror que está incluso, deixando ainda mais assustadora uma temática revoltante.
Somos apresentados a Chris (Daniel Kaluuya) um homem negro, que se prepara para ter o primeiro contato com os pais da namorada branca Rose (Allison Williams), mas ao chegar no local um casarão gigantesco em um local afastado do restante da cidade, ele percebe que os empregados da casa são negros, e tem atitudes extremamente estranhas, ele então passa a ficar incomodado com as situações que se passam, prevendo que algo muito perigoso possa estar acontecendo no ambiente por de trás das atitudes robóticas das serviçais, conforme a trama se desenvolve as coisas vão ficando cada vez mais ameaçadoras, mais esquisitas, e tensas, até o grande momento, onde o filme até então tranquilo virá para cenas de terror psicológico gritante, a violência toma conta da cena, e o racismo escancarado chega a superfície.
O longa é sim um filme sobre racismo, mas de forma inteligente, o diretor Jordan Peele não quer apenas colocar o dedo na ferida, apenas isso não o satisfaz, ele taca sal e limão na ferida para a dor ser sentida, levando o espectador a questionar seus pensamentos sobre o que está assistindo, que seja sentindo na pele à opressão sofrida por pessoas negras no mundo inteiro, o roteiro de Peele nos leva ao envolvimento a trama, o terror aqui não é através de sustos fáceis, mas a cena crua exposta na sua cara, a tensão e o medo favorece o desenvolvimento da história proposta pela filme que irá agradar o espectador, pela construção eficiente desse terror e tensão narrativa, há nele um humor ácido, irritante, até mesmo incomodo, mas que funciona e pôr fim a mensagem a ser passada vem à tona sem misericórdia.
O terror da produção é muito incomodo pela verdade mostrada, ao se propor conectar a trama do filme a realidade atual, escancara verdades na nossa cara que muitos não estarão prontos para ouvir e ver, a manipulação emocional que o diretor e seu roteiro conseguem de forma elegante e primorosa é louvável, o fato que fica é que toda tensão que é construída aqui, carrega junto a si o peso da questão racial, a inteligência da equipe de desenvolvedores é incrível ao mostrar o medo de um negro ao andar em bairro de brancos no primeiro minuto do filme, a tensão extremamente bem construída, junto ao um texto maravilhosamente bem escrito, fazem da trama algo memorável.
Corra! é um filme que utiliza de maneira genial um contexto para causar, não quer em nenhum momento ser apenas um objeto de entretenimento, ou deixar alguma mensagem entre as linhas de seus falas coerentes, o terror que é mostrado aqui é real e sem isso a produção não existiria, captando perfeitamente como os temas devem ser abordados para gerar discussão, com um roteiro engenhoso, um elenco espetacular com atuações impressionantes, destaque para o protagonista Daniel Kaluuya o trabalho facial do ator é absurdamente impressionante, o filme de Jordan Peele é um daqueles que não existe ponto sem nó, e coloca cada um desses nós na sua garganta ao expor o racismo da forma como é sentido na pele de quem sofre dele, fazendo desse seu primeiro filme um dos filmes mais fortes e poderosos dos últimos anos.
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