Como é difícil ser adolescente, uma fase repleta de julgamentos, dos outros e de si mesmo, inveja, rancor, maldade, mas também repleto de descobertas, de decisões importantes, de escolhas que vão fazer de você o que você será para si mesmo e para os outros ao seu redor, a Netflix traz para nós a série 13 Reasons Why (13 Porquês), baseado no livro de mesmo nome do autor Jay Asher, cheio de temas interessantes o livro foi um grande sucesso de vendas e chega agora no canal de streaming, produzido pela cantora Selena Gomez, o blog assistiu todos os episódios e te conta agora nossa opinião.
13 Reasons Why está inserido nesse universo adolescente, onde revelar ou entender por que os caminhos da nossa juventude nem sempre são tão fáceis como gostaríamos que fosse, não se trata de falar apenas das lagrimas derramadas por desilusões amorosas, arrependimentos por escolhas que achávamos que eram as certas, zoações e piadinhas, ou coisas do gênero, adolescentes são pessoas anormais, em uma fase do jogo que se chama vida, onde qualquer passo em falso pode deixar uma marca eterna, escolhas tem de ser feitas, não podem esperar, perguntas chegam aos ouvidos como facadas nas costas, “O que você vai ser?”, “quem é você?”, “Você tem certeza?”. Não é fácil saber o que vai acontecer, parece que você não pode errar, tem de buscar a perfeição, e mesmo que chega a perfeição, pode acabar sendo julgado por isso também.
A série começa nos apresentando Clay Jensen (Dylan MInnette), ainda muito devastado pelo suicídio de sua amiga e amor platônico Hannah (Katherine Langford), ele recebe uma caixa com treze fitas cassetes gravas pela moça antes de tirar a própria vida, explicando o porquê de ter feito o que fez, o garoto passa então a fazer uma jornada de recomposição de sua antiga companheira, movido por esses áudios e ligando as suas próprias lembranças dos ocorridos, os passos de Hannah vão sendo recontados, confrontando passado, presente e futuro. Como um álbum de Ed Sheeran bem organizado e planejando, o espectador vai conhecendo a personagem e a sua visão da vida que vinha levando, cada fita, cada lado da cassete, a cada personagem que ela cita, a cada frase que ela solta, como se os comentários da garota ecoassem como uma música capaz de fazer refletir cada ato.
Hannah evidentemente fala dos seus romances, mas o que a garota procurava sem exaustão era alguém com quem trocar afeto, era apenas isso que a jovem buscava, cada lado de uma das fitas narra seu envolvimento com um estudante de sua escola e como eles transformaram o amor que tinha para oferecer em uma arma que atingia apenas a ela mesma, o bando de atletas que só a viam como um pedaço de carne sexualizado vulgarmente, a amiga que acreditou em boatos ao invés da amizade, o parceiro que a usou para atingir uma outra menina e assim mais. Nesse ritmo segredos vem à tona e até crimes são revelados, e enquanto as outras pessoas tentam manter sua pose, e é apenas Clay que segue numa busca incessante pelo passado, revelando ao espectador as suas fragilidades em relação aquele sistema escolar em que está inserido e pelos sentimos que guardava por Hannah.
A dor de Clay é fio condutor emocional da série, a cada palavra dita por Hanna há um peso na atual vida social do rapaz, que mal consegue ouvir uma fita inteira sem parar para respirar, ele decide confrontar a vida, não somente externamente mais internamente, buscar fazer com que todos na escola, principalmente os envolvidos incluído ele mesmo, tenham consciência de sua parcela de culpa na morte da jovem Hannah. Aliás o confronto interno de Clay é intenso e bonito ao mesmo tempo que emociona, o rapaz criar uma dimensão alternativa em sua cabeça, de que poderia existir um futuro melhor para Hannah se desde o primeiro minuto que teve a chance, devia ter dito o que sentia, como se ele tivesse sido o abraço que faltava, a corda que puxasse a jovem do fundo de um poço escuro em que ela se escondeu para não sofrer mais pela realidade em que estavam vivendo.
O sucesso narrativo da série tem uma explicação, dirigida por nomes em ascensão no cinema como Tom McCarthy (Spotlight), Greg Araki (Passaro Branco na Nevasca) e Jessica Yu (American Crime), conseguem ilustrar através de ideias visuais e formais que ajudam a produção a passar as emoções e sensações de seus personagens e a importância dos temas que levanta. Com montagens de cenas muito inteligente ligando passado e presente, colocam cara a cara a causa e consequência no plano e contraplano, o espectador vê o que Hannah narra e segundos depois percebe quais foram as consequências daqueles fatos, é um inserido uma quantidade de mistério certa para que o público se sinta instigado a continuar, pouco a pouco, fita após fita a saber a verdade e os motivos que levaram uma jovem de dezessete anos a tirar sua própria vida.
A seriedade e importância com que trata os temas que levanta são um show a parte dos roteiristas dessa produção, eles compreendem claramente a importância das mensagens, e transmitem a dor independente de ser uma jovem, é importante compreender os fatos que levam uma jovem cheia de vida a essa angustia, nesse sentido a serie sob o nível da conversa ao colocar em cena todos temas da adolescência dos dias atuais, como bullying, assedio, machismo e abusos. Esses são temas que são trazidos a tona a todo momento, deixando claro que a serie deseja mostrar que os treze motivos são esses atos e não as pessoas que nomeias cada fita. 13 Reasons Why não é relevante apenas pelos temas que aborda, mas pela consciência da história, e das imagens que constrói em torna da juventude.
Dito isso a Netflix acerta mais uma vez com 13 Reasons Why, uma serie muito mais do que simpática sobre romances, com uma trilha sonora espetacular, protagonistas excelentes, o que vê aqui é uma obra totalmente humana, honesta sobre adolescência, a melhor fase da vida existe apenas na cabeça de quem não realmente vê o mundo real, é uma jornada dolorosa sobre ter que seguir em frente em um mudo em que o ideal não existe, reconstruir toda a dor da protagonista é necessário a para que uma nova geração possa crescer e aceitar que ser frágil e cometer erros é normal e aceitável, permanecer frágil e cometer os mesmos erros é que não, somente assim as variáveis consequências não serão trágicas quanto a de Hannah.
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