Kong: A Ilha da Caveira


            Kong: A Ilha da Caveira busca recontar o clássico de maneira diferente, estilizada, moderna, com a tentativa de nos contar uma narrativa nova crendo na ingenuidade de seu espectador, repetir o que Peter Jackson fez com King Kong de 2005, não é a escolha de Jordan Vogt-Roberts, inteligentemente bem dirigido tem a consciência de trabalhar com uma imagem já usada de várias formas, utilizando o personagem como uma entidade poderosa, uma figura já construída e reconstruída ao longo dos últimos anos.
            Assim essa nova produção não busca entender seus personagens, ou explicar suas origens e suas missões. A perigosa Ilha da Caveira presente no título do longo metragem é como se fosse uma atração de algum parque temático, os personagens e espectadores são colocados em várias aventuras audiovisuais em que o único objetivo é o espetáculo e a diversão. Nesse festival de cores, luzes, macacos e monstros gigantes, as imagens surgem como se estivessem num trem fantasma, o que surge na tela é um espetáculo visual muito bem construído pelo seu diretor, nada real, puramente arte visual, visando o divertimento.
            É nessa construção de estímulos audiovisuais que o longa se baseia, como se sua narrativa estivesse totalmente ligada a essas atrações, um parque temático completo, o objetivo do longa não se distancia desse em momento algum, Kong não tem compromisso nenhum com a realidade com alguma essência humana que motiva aqueles seres, é um mundo de imagens atrativas sejam elas na Guerra do Vietnã ou em qualquer outro lugar.
            O filme amarra seu longa através dessas imagens visualmente atraentes ainda que na maioria das vezes carregada de um exagero, ao fundo ouve-se uma trilha sonora repleta de Rock popular dos anos setenta, para que essa mistura funcione, que esse jogo cumpra com seus objetivos, o longa aposta em três linhas muito claras. Uma aventura totalmente irônica e fortemente auto satírica, um tom que remete as aventuras clássicas daquela década.
            Essa questão irônica fica na figura de Samuel L. Jackson, que não entrega seu melhor trabalho, talvez pelo personagem que parece fazer caricatura de vários personagens famosos. O visual do longa concebido pelo diretor de fotografia Larry Fong e pelo diretor Vogt-Robert escancaram essa construção cênica do filme, as cores extremamente que nada daquilo é verdade. A busca pelo diretor de fazer o melhor de cada cena, é louvável e prazerosa.
            O longa faz sátira de si mesmo o tempo todo, brincado com aquilo que se espera de um blockbuster de ação, Kong tem momentos de tamanho absurdo que levam o espectador a gargalhadas, a diversão, e o filme nunca deixa claro que não se leva a sério, a melhor ironia com certeza é aquela que até o final não se saber se é uma brincadeira ou uma realidade. São longas como esse que são recheados de momentos propositalmente patéticos convivem lado a lado com sequencias de ação que se levam a sério, confundindo a cabeça do mais preparado cinéfilo, tornam a aventura simpática e com as mãos afundadas no trash movie.
            Por outro lado o núcleo envolvendo Capitão James Conrad (Tom Hiddleston) e a fotografa Mason Weaver (Brie Larsson) remete a tentativa de criar protagonistas aventurescos à lá Indiana Jones, são esses os personagens escolhidos para conduzir a ação, que se colocam em aventuras e até mesmo ditam quando o espectador deve começar a torcer por Kong, apesar da ação, da aventura e das explicações narrativas estarem nesse núcleo esses são os momentos mais fracos de Kong, pois nem Larsson muito menos Hiddleston possuem o carisma necessários para se tornarem lendas como Harrison Ford, eles reforçam apenas o pensamento de que esses personagens são apenas bonecos colocados em situações absurdas, sendo difícil criar empatia com a dupla, o destaque cênico fica para Hank Marlow (John C. Reily) o humor, e graça que o personagem insere são na pitada certa, para o filme ser divertido, e com piadas hilárias.
            Kong: A Ilha da Caveira, tem um destaque gigante o estilo que o diretor insere ao longa, que fica muito evidente quando o próprio Kong está em cena, as lutas entre os monstros da ilha são sempre regadas por uma violência absurda, com muita cor e focos de câmera diferenciados, recheadas de exageros filmisticos. Mas é algo que nunca se torna pesada, uma vez que nada parece real. A cena que Kong arranca com a boca os tentáculos de um polvo gigante é algo que não sairá da sua cabeça.
            A Ilha Da Caveira é um parque temático pronto para ter os seus ingressos colocados à venda, a direção é brilhante buscando transformar o longa em uma experiência audiovisual incrível, com um objetivo simples ser divertido, fazer valer cada centavo do ingresso do cinema, e entrega aquilo que promete, o filme tem problemas, principalmente no desenvolvimento dos seus personagens, mas tem momentos alucinantes excelentes.


Comentários