John Wick: Um Novo Dia Para Matar - Crítica


            Aquele primeiro John Wick parecia um herdeiro de filmes de sucesso dos anos oitenta, com protagonistas em busca de vingança, sem avaliar os meios para alcançarem seus objetivos matar o vilão, com uma clara homenagem a filmes como Desejo de Matar de Charles Bronson, tudo com uma violência estilizada imitando movimentos famosos de games populares, foram alguns dos fatores para o sucesso do primeiro filme que arrecadou mais U$80 milhões mundialmente e acabou sem querer se tornando um filme cult de violência.
            Nessa continuação da produção bem-sucedida de 2004, o diretor Chad Stahelski, tenta criar algo novo e diferente de seu antecessor, logo no início do filme o diretor mostra que a sequência estrela por Keanu Reeves, faz uma bonita homenagem com a mitologia de muitos dos longas de sucesso e cultuados produzidos na China, o tom sombrio do primeiro filme que tentava dar seriedade ao longa, as cores que não fugiam da paleta acinzentada, davam peso e projetava o estado de espirito de um John Wick que havia acabado de perder a família, na produção que estreia nessa sexta-feira nos cinemas de todo o Brasil o cinza é deixado de lado.
            John Wick: Um Novo Dia Para Matar é um filme que assume um novo estado de espirito, que rompe com toda a seriedade que seu antecessor tentou passar, cria um distanciamento da realidade e da seriedade que é visto na tela, assumindo aqui um tom muito mais caricaturado do que qualquer outro termo que possa ser escolhido. John Wick 2 é um filme que se liberta conforme os minutos se passam de ter de expandir o universo criado no primeiro longa, ele abraça a loucura, as cenas de violência muito bem coreografas, e dirigidas, fazem com que o fã de jogos de vídeo game se satisfaça enfim com um cenas de luta, tiro e violência com muito sangue do jeito que deveriam ser, mas erra quem pensa que são sem sentido, as cenas tem proposta, e tem estilo, muito enraizada na cultura chinesa de filmes, com câmera em diagonal, e dando distanciamento necessário para que o espectador consiga assistir a cena e curtir da melhor maneira possível.
            A trama da sequência é diferente de seu antecessor, e logo nos primeiros minutos é dado esse recado, quando o protagonista assiste a sua casa sendo incendiada, mas o fato não é a motivação do “herói”, é como se o filme tentasse apagar todas as memorias emocionais de Wick, como se tudo que havia vivido e aprendido em sua vida de assassinatos, que um dia foi usada como justificativa para suas missões  não fizesse mais sentido e não necessitasse mais matar única e exclusivamente por vingança, dele ou de outros. O que mantem esse homem no jogo para uma nova partida de mortal, é uma antiga dívida com a máfia, dando a possibilidade para que o filme seja como um todo sobre esse mundo tão convidativo e curioso da máfia, que no universo criado por Wick não beira em nenhum momento a realidade que conhecemos dos livros de história.
            A trama do filme faz com que ele possa seguir por dois caminhos bastante interessantes, o primeiro de conseguir fazer com que o espectador embarque no fluxo de situações extremas e nada reais, a construção do universo é tão bem-feita que não há em momento algum duvidas ou questionamentos a serem feitos em torno das questões dramáticas naquele filme, ele segue suas próprias regras sem ter que explicar ou dar justificativa como seu herói parou naquele ponto da história.
            O humor é bem utilizado é faz sentido quando utilizado, se no primeiro sempre havia algo que sempre alguém nos lembrando o quanto aquela missão era difícil, aqui o filme deixa que suas figuras sejam tão carregadas e caricatas que isso gera um humor que parece espontâneo na tela, mas que na verdade é muito bem estudo pelo diretor, cada frase dita, cada ato feito, como se fosse um grande herói em cena, tudo utilizado milimetricamente, pensado para que surja como um humor que aparentemente não é proposital, mas afasta por completo aqueles tons utilizados no primeiro filme. É claro que em alguns momentos o clima do filme também tem seu lado negativo, esse absurdo tresloucado, aliado ao seu humor negro e assumido faz com que tudo aquilo pelo que o protagonista está passando, não passe de uma fase de um jogo de videogame, é construído no roteiro uma tentativa de diminuir o impacto da violência nele contida, e olha que o filme não poupa em nenhum momento a violência sanguinária.
            John Wick: Um Novo Dia Para Matar é um filme que faz homenagem a violência dos games de sucesso atual, a mitologia chinesa com muita elegância, utiliza seus espaços de formas nunca antes utilizadas, torna esse anti-herói mal humorado, e com fome de matar em um personagem que você com consegue torcer, abraça sua loucura sem perder o foco, abre mão de sua seriedade para seguir rumos muito mais interessantes, com uma insana fome de violência sem limites, mas sem deixar de fazer um filme interessante e principalmente divertido.


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