Cinquenta Tons Mais Escuros - Critica



            Cinquenta Tons De Cinza trouxe à tona, desejos ocultos que para uma grande maioria estava em estado de hibernação dentro de si, a trilogia de livros se tornou um dos maiores sucessos de todos os tempos em vendas de livros, no cinema o primeiro filme conseguiu arrecadas mais de 500 milhões de dólares, mas as cenas de sexo nunca foram intocáveis no cinema, já foram mostradas algumas vezes até mais fortes, e pesadas que no primeiro filme, mas a franquia cinquenta tons tenta fazer algo diferente dar motivação para o instinto animal sexual do ser humano, coisa que nunca foi feito, pois não é o que o público desse gênero procura.
            Em Cinquenta Tons Mais Escuros, mostra uma relação entre Anastásia e Sr. Grey diferente do seu antecessor, aqui não tem mais o jogo de sedução, a relação de dominação daquele homem em relação aquela mulher é deixada de lado, ou pelo menos é sugestionada, existe uma clara tentativa de estabelecer um relacionamento mais sentimental. O filme tenta fazer um retrato de como essa relação pode perdurar com as ações de Grey, os seus traumas e suas obsessões. A montagem desse filme é uma espécie de reunião de negócios, como uma grande discussão de relação que se prolonga pelo filme todo, as relações são tratadas como uma discussão empresarial, em que uma das partes deve ceder em um ou outro aspecto para que o contrato seja assinado. O sexo nesse novo filme é apenas mais um termo de contrato, não ganha a importância que a autora da nos livros.
            Essa sequência deixa de lado o que foi construído no primeiro filme, não é mais sobre paixões, impulsos, desejos e fantasias sexuais, mas mostra um filme mais frio de como dominar uma relação, o sexo é tratado como uma das riquezas de Grey, como se com cada ato sexual ele pudesse comprar fisicamente e emocionalmente sua parceira. O diretor James Foley conduz um filme alienado de sua origem, é irritante como em cada momento que o filme caminha para tirar as muitas mascaras desse homem cheio de segredos e atitudes extremamente questionáveis, ele broxa, ele escolhe mostrar seu protagonista Jamie Dornan sem camisa, deixando a mostra suas cicatrizes de um passado intrigante, mas sem explicação e seus músculos, essa ação parece ser uma chave para Anastacia de Dakota Johnson se excitar e ficar nua também, nenhuma questão levantada na última produção é tratada aqui tudo é deixado de lado, o sexo serve como amenizador dessa figura de homem sedutor que foi criada, servindo para ludibriar tanto a sua protagonista quanto seu espectador.
            A sensação de ver uma relação fora do contexto, mesmo que a tentativa exista, fica clara, o ato sexual aqui é banalizado, com coreografias dos atores que as encenam sem deixar transparecer nenhum tipo de desejo dos personagens um para outro, embaladas por músicas pop, aliás ponto positivo da trama a excelente trilha sonora que é atemporal e não um clássico marcado por um filme, músicas que vão conseguir deslanchar bem nas rádios, mas as canções são utilizadas como mecanismo de conexão sexual, como se o som da música liberasse o desejo dos personagens, e não a atração física de um homem e uma mulher que se desejam,  o sexo é mais uma ilusão do filme, mais uma parte da negociação que coloca no preço do ingresso os seis de Dakota e o peitoral de Jamie, nessa tentativa de soft porn sem sexo, ou pelo menos desinteressante é a constatação de um mundo totalmente imaginativo, sempre ligado a uma lógica de dominação e de negociação, o amor aqui nunca vem como o famoso “eu te amo”, mas sim com um “sou toda sua”, numa objetificação total daquela mulher e daquilo que chamam de relação. Essa posição de mostrar o homem rico obsessivo e possessivo e retrata-lo como um charme desse homem, e deixa a sensação no espectador de como aquela figura com barba por fazer não é o grande vilão do filme.
            A trama do filme intelectualmente pode não existir, demonstra sérios problemas de roteiro, e de realidade, mas é elogiável a elegância, produção e fotografia do filme. James Foley consegue imprimir uma beleza no design de set, uma fotografia muito elegante de Seattle, mostra uma produção chique, mas tudo isso é esquecível graças a sua direção que transforma o filme mais em uma novela mexicana, do que qualquer outra coisa, a cena que Grey se salva de um desastre aéreo, e  surge do nada em sua casa poderia ser um momento visto em qualquer novela, beirando o risível, nem suas cenas de sexo empolgam deixando uma sensação ruim, principalmente para aqueles que gostaram do primeiro filme, tenta usar do sexo como maquiagem de um filme feio, e não acerta mão.
            50 Tons Mais Escuros demonstra que a relação de amor, carinho, conquista, sedução, desejo carnal, fome pelo corpo do outro, não é mais o mesmo, e que dominação é a nova onda do momento, dominas desde quando acorda, até a hora de ir dormir, passando por sessões de sexo coreografado, banalizar o sexo como uma negociação perde completamente o tal desejo do ato em si, e transforma simplesmente em uma rapidinha sem sentimento algum, ir ao cinema achando que irá conseguir se relacionar com os personagens, já era impossível, querer que o filme tenha algum pensamento intrigante e mais profundo sobre relações humanas pior ainda.


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