A Qualquer Custo - Critica



            Definir o filme A Qualquer Custo como um filme de faroeste moderno, é de extrema pobreza, com uma trama extremamente complexa, imaginativa, bem amarrada, dirigida com muito cuidado, e com um elenco sensacional, traz sim de volta a sensação que o faroeste antigo trazia, a de quebrar toda e qualquer convenção do cinema americano, com um pensamento contemporâneo, a produção americana ultrapassa a barreira, e vira um faroeste pós-modernismo.
            O diretor da trama é David Mackenzie, que com o auxílio do roteirista Taylor Sheridan conseguem trazer uma gama de referências e explicações, com uma criatividade poucas vezes vista, mas sem fugir da realidade que a trama precisar estar situada, a sensação em olhos mais céticos é de os dois não fazem isso propositalmente, mas mostram que entendem onde o filme quer chegar e demonstram entendimento completo das características que trabalham na produção. Fazem de seu filme, um algo mais do que o pano de fundo interessante e convidativo do faroeste, mostram que seu filme é sério, virando uma forte crônica sócio-política através desse gênero tão batido a alguns anos atrás.
            A história acompanha uma dupla de irmãos Tanner e Toby Howard (Ben Foster e Chris Pine), que cruzam o oeste do pais assaltando pequenos bancos, a fim de pagar uma dívida de Toby. No entanto os dois fora da lei passam a ser perseguidos por Marcus Hamilton interpretado pelo excelente Jeff Bridges, um xerife prestes a se aposentar que leva essa como sua missão de despedida do cargo de defensor da justiça. O filme contém na figura da dupla de criminosos seu apelo em relação ao público, que pela relação e conexão dos dois irmãos, se encanta pela dupla de foras da lei, homens que subverteram a lei numa condição muito mais marginal, de andar contra o sistema, do que necessariamente a de roubar por prazer. Nesse filme os assaltantes são anti-heróis que derivam de um pensamento digno da Nova Hollywood. Personagens com ambiguidades muito interessantes, muito criveis, que utilizam de meios questionáveis para chegarem a seu objetivo, nessa imperfeição sobra humanidade à dupla de protagonistas do filme.
            O filme é um texto em forma de crônica acerca daqueles locais por onde os personagens principais transitam. De forma calculada, estudada e com muita sutileza, o diretor faz um retrato daquela região dos EUA pós-crise de 2008, local tomado de todas as formas pela especulação financeira. Se antes era estrada de ferro que representava perigo progressista nas comunidades do Oeste, agora há a constatação que a bolha financeira praticamente acabou com aquele lugar. Nesse sentido deixado de lado, a característica dado a si mesmo como um mero filme de faroeste. É interessante ver como é construído o paralelo entre a imagem enraizada que se tem do faroeste e a sua nova representação, na última parte do filme é como se os irmãos estivesses numa cidade do Oeste no filme do século retrasado, com todos os cidadãos perseguindo os marginais, apenas utilizando potentes caminhonetes ao invés de cavalos, e ao invés de usarem revolveres utilizam-se de poderosos rifles. A Qualquer Custo realiza dois momentos de extrema excelência, a primeira na espécie de confronto final entre Hamilton e Tanner e depois na conversa banal entre o mesmo xerife e Toby. Não existe ponto moral em A Qualquer Custo, fato que deixa a relação entre mocinhos e bandidos (se é que ela existe) muito mais honesta.
            A Qualquer Custo talvez possa ser chamado de faroeste moderno, mas engana-se quem enxerga uma simples repetição de clichês do gênero, o filme consegue, nas entrelinhas, com a veracidade com que transcreve os pensamentos contemporâneos através das formulas dessa gênero americano com uma perfeição poucas vezes atingida, a trama moderniza o tão amado nicho do faroeste em muitos sentidos, e entre para aquela coleção de filmes na memória, que vai ser lembrada eternamente em nossas cabeças.


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