Crítica - Sete Minutos Depois da Meia-Noite

            
            A dor da perda, a dor de ver alguém te deixar por uma doença, assistir isso de perto é dolorido, agoniante, e traumático, para crianças que não tem a bagagem de vida necessária, se é que seja possível estar preparado para perder a sua mãe, e pior ainda vê-la morrer aos poucos por uma doença que se mostra cada vez mais forte que o seu amor.
                Sete Minutos Depois da Meia-Noite lida exatamente com essa questão, foca a sua narrativa em Conor (Lewis MacDougall), um jovem garoto cuja a mãe interpretada brilhantemente por Felicity Jones está com câncer, desde os primeiros minutos do filme sabemos o quanto isso mexe com o pequeno protagonista, ele vive com o mesmo pesadelo constantemente sobre a perda da mãe, vemos os sinais disso no rosto do garoto com olheiras profundas claro sintoma de quem não consegue ter uma noite completa de sono, na escola o menino ainda sofre bullying de um grupo de garotos de sua turma em cenas fortes de serem assistidas, mas isso parece não incomodar Conor, não mais do que o pesadelo com a morte de sua amada mãe.
                Mas uma noite dessas se torna diferente em quanto desenha ela ouve um chamado por seu nome, ao longe ele vê a mais velha arvore da cidade se levantar e vir em sua direção, se transformando em um monstro arvore de aparência assustadora (voz do ator Liam Neeson), um ser que parece ser uma nova ameaça a vida do garoto, que diz ao menino que o escolheu para lhe contar três histórias e que ao final das mesmas o pequeno teria de lhe contar uma história especifica o seu pesadelo.
                O roteiro do filme é do autor do livro em que o longo é baseado Patrick Ness, que faz um bom trabalho se percebe o cuidado de contar a história triste e amarga do menino de forma lúdica, ele consegue fazer com que o espectador se apega ao protagonista desde o início, fazendo com que soframos com as situações que o menino precisa enfrentar, o texto é ótimo ao escolher não ser como a maioria dos dramas que vemos nos dias hoje, ao passo que seu público já se vê emocionalmente envolvida sem a necessidade dessas táticas baratas, tem alguns erros mas a fantasia ao redor de uma vida tão triste conquista e somente os mais chatos vão se incomodar.
                A beleza do filme dirigido por J.A. Bayona começa, quando ele nos mostra a fantasia ao colocar em cena a ameaçadora figura do monstro arvore, porém muito carismático na voz marcante e inigualável de Liam Neeson, as sequencias que ilustram as histórias contados pelo monstro são visualmente deslumbrantes, uma computação gráfica que emula uma dança de tintas sobre as aguas e ao fim se formando um espetacular aquarela de cores de belezas, predominando o contraste de preto dos personagens com o ambiente ao seu redor, mas isso tudo somente funciona graças ao roteiro que insere tais contos de forma a ensinar uma lição para o protagonista e o próprio espectador, essas lições não caem no obvio e pedem a interpretação, nos imergindo ainda mais, ao passo que nos fazem pensar no lugar do protagonista.

                Uma grata surpresa para começar o início do ano, uma lição de superação, um filme que consegue mostrar a dor de um menino, que sofre bullying, assiste diariamente a doença de sua mãe lhe consumir, morar com uma avó cruel e rígida vivida brilhantemente por Sigourney Weaver, e ainda o luto, tudo de uma forma fantasiosa, inspiradora, emocional sem ser piegas, e sem se utilizar do drama forçado. Com deslumbrantes sequencias em animação, fortes atuações, roteiro conciso que sabe de onde vem e para aonde quer chegar e uma direção impecável, transformando a dor e sofrimento em poesia, o filme definitivamente consegue atingir seu espectador em cheio, lidando com o luto de forma adulta, ainda que se esconda em uma fantasia calorosa para tal, demonstrando que a dor da perda é constante e precisa ser sentida para seguir em frente.


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