Critica - Estrelas Além do Tempo



Direitos femininos, o que as mulheres podem ou não fazer, quais são as carreiras específicas para mulheres, são tópicos estranhos de reportagens de grandes jornais americanos nas últimas semanas, estranho mais ainda quando você dá uma olhada de canto para o calendário e vê que estamos em 2017, e discutindo os direitos das mulheres.
Hiden Figures que no Brasil, ganhou o “incrível” nome de Estrelas Além do Tempo, a trama dirigida por Theodore Melfi, nos apresenta uma menina chamada Katherine que na vida adulta é vivida por uma Taraji P. Henson contida e bem em seu trabalho, a menina Katherine possui uma predileção pelos números, geometria, ou seja pela matemática em geral, o olhar sonhador de quem vai fazer dos números algo bom e positivo para o mundo encanto no olhar da menina, ela agora adulta e formada em matemática, tem duas amigas Dorothy interpretada por uma Octavia Spencer sem muito brilho comparado a seus últimos trabalhos, e Mary Jackson interpretada por Janelle Monae que é a grande revelação do filme com uma forte interpretação de uma mulher jovem engenharia a frente de seu tempo, as três amigas trabalham para a NASA (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço).
Apesar de todas serem colegas e atuarem na atual maior agência área espacial do mundo, a situação de suas carreiras é longe de ser uma das mais invejáveis. Afinal, não se trata aqui do fato apenas de que elas são negras. Elas são negras nos Estados Unidos da década de 60. Ainda, elas são mulheres (negras) inseridas em um meio profissional dominado essencialmente por homens (brancos). Portanto, estamos lidando com uma época extremamente racial, sexista e preconceituosa que foi a sociedade norte-americana. Ainda que pertinente seja a tradução “Estrelas Além do Tempo”, o título original deste longa é mais efetivo em seu original – “Hidden Figures” ou “Figuras Escondidas” – pois é exatamente o que elas foram: peças importantes escondidas, pouco valorizadas. Esse efeito é o mesmo quando em tela aparecem imagens televisivas reais das principais notícias do país acerca das primeiras viagens espaciais, quando aprendemos que na realidade, por detrás das cortinas, elas foram as maiores responsáveis por esse sucesso.
Mas o que mais chama atenção nesta homenagem é como o preconceito é vivenciado por cada uma delas. “Amontoadas” em um prédio escondido e pouco cuidado, longe dos principais edifícios dentro do complexo da NASA, é notável a sensação e a pouca preocupação de um “ambiente de trabalho digno” (muito embora as cores quentes tornam o ambiente um pouco mais acolhedor), em comparação aos espaços amplos, com mesas espalhadas, organizadas e mais confortáveis para os demais trabalhadores brancos, ou como, ainda, o banheiro luxuoso que somente é acessível às mulheres brancas.  O mais chocante é que a opressão é tanta que negros não podiam beber do mesmo café, ler os mesmos livros ou tomar da mesma água que eles. Pior, eram proibidos de compartilhar o mesmo “ar” já que sempre – em qualquer lugar – assentos em lugares públicos eram reservados a negros e separados dos brancos. É de se prestigiar, portanto, uma história contada com todos os detalhes sem querer suavizar nenhum destes aspectos.
Em outro ponto de vista, devo parabenizar, e até certo ponto os roteiristas Melfi e Schroeder por não desviarem a atenção do espectador para explorar mais a fundo o real objetivo do trabalho das três moças. Afinal, estamos tratando de pessoas que alavancaram a Guerra Fria e possibilitou que os Estados Unidos e a Rússia iniciassem um conflito bélico. O problema se agrava quando, muito discretamente, a direção de Melfi tentar romantizar ou “hollywoodizar” essa pavorosa guerra. Perceba-se a idolatria ao ex-presidente Kennedy com uma foto colocada propositalmente ao centro da sala de Harrison, ou então um pôster enquadrado no canto do plano, a fim de inferiorizar a Rússia ou, ainda, a própria figura do “herói imaculado astronauta” que arrisca sua vida e, portanto, é captado usando um smoking e gel no cabelo durante uma reunião, como se estivesse a caminho de uma festa. Felizmente, conseguimos até esquecer desta perspectiva, na medida em que é deixada de lado para abordar e criticar a questão alarmante da segregação racial dos Estados Unidos e como pequenas atitudes pioneiras das personagens, tais como, pleitear perante um juízo ou demandar acesso a documentos podem gerar consequências positivas e que impactam futuras gerações. Como Mary pontua muito bem: “alguém tem que ser o primeiro”.

Estrelas Além do Tempo é eficaz, novelesco demais em alguns momentos, boas interpretações de Monae, uma contida Taraji, e uma Octavia ok, a direção é mediana para a importância da história baseada em fatos reais, um pouco mais de realidade e um pouco menos de floreios seriam bem-vindos, e muito bem recebidos pelo espectador que cansa com as repetições de tentativas de emoção fácil e a tentativa consequente de forçar o choro do seu público.


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