Que a Rede Globo se transformou em uma das maiores produtoras de conteúdo dramatúrgico do mundo nós já sabemos, nem todos são bons, mas as no mínimo uma vez ao ano eles alcançam o topo e a excelência, com suas minisséries, em poucos capítulos, capricho impecável, e textos delirantes, Dois irmãos obra do autor Milton Hatoum serviu de base para a criação de um espetáculo artísticos nos primeiros dias do ano, e que por falta de tempo apenas assisti agora pelo ótimo Globo Play, aplicativo excelente da emissora platinada.
Luiz Fernando Carvalho é diferenciado por natureza, seus movimentos de câmera inquietos, seus tons de tela psicodélicos, e suas criações de figurino e cenário buscam colocar o espectador dentro da história imerso, mergulhado em uma viagem cênica. Dois Irmãos é na minha opinião uma das melhores produções do diretor a assinatura está ali intacta, mas dessa vez mais acessível, mais crível, sem as loucuras e tons lúdicos, com figurinos excessivamente exóticos e firma seu pé em uma realidade brasileira, o chão de barro batido de Manaus do início dos anos 10 até os anos 60, com cenários impecáveis, e fotografia de cinema, a minissérie é luxo para os olhos. A escolha de um tom mais barroco permanece, mas conversa em sintonia com a época e a trama em si, com isso o público não se choca, consegue fazer seu espectador se sentir atraído ao encontro do desconhecido mundo que está sendo apresentado, não há dúvidas que Dois Irmãos é uma das melhores obras da televisão brasileira nos últimos tempos.
A trama adaptada por Maria Camargo, tinha uma missão das mais arriscadas, pegar um dos textos mais icônicos de Hatoum e transforma-la em produto consumível para tv, mas a autora arrisca e conquista com um texto afiado, trama inquieta, e cheia de elementos capazes de fisgar o público comum de novela. A saga dos gêmeos Omar e Yaqub, que em sua fazem jovem são interpretados pelo ótimo novato Matheus Abreu, e na sua fase adulta por Cauã Reymond em um de seus melhores trabalhos se não o melhor dos últimos anos, conseguem traduzir a eterna luta do bem e do mal e a confusas relações humanos. A produção caminha muito bem ao mostrar a distância entre Omar e Yaqub, com a raiva de um irmão pela escolha meio inexplicável da mãe pelo outro. Zana é o fogo interpretada por uma ótima Gabriela Mustafá, uma Juliana Paes impecavelmente perfeita, elogios a parte a atriz vive seu melhor momento como atriz, e Eliane Giardini que controla a personagem na palma da mão com uma tranquilidade absoluta, ela prefere Omar quando precisa tomar uma decisão importante e com isso mandando seu outro filho Yaqub para o Líbano, o tempo e distancia, no entanto, parece aumentar a rivalidade entre os irmãos, gerando ainda mais conflitos e tragédias. Simplificando uma trama sobre um drama família e humano, cheio de camadas, é impossível não se envolver e não ter interesse em saber o que vem no próximo capitulo.
fonte: Rede Globo
Dois Irmãos é lenta, segue seu próprio ritmo, anda da forma como tem que ser andada para que seu espectador crie laços com seus personagens, cheia de pausas e sinalizações herdadas da literatura, a sensação de se destoar do ritmo frenético das produções comuns, são sentidas, no entanto são contempladas pelo público, que consegue ter mais facilidade para compreender os movimentos e as situações da trama. Nesse contexto a minissérie manda um recado e aponta o dedo na cara do espectador de sofá, não importa se o ritmo é lento ou veloz, desde que haja uma história e um motivo claro para determinar qual o melhor tom da velocidade, precisamos ver além da tela comum, que prega que apenas obras com ritmo alucinados fazem sucesso nos dias de hoje, a boa audiência da produção prova que isso não é uma verdade absoluta.
Dica: Assista na Globo Play todos os episódios já estão disponíveis;
Dica 2: Se não leu leia o livro de Milton Hatoum que é maravilhoso.
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