Capitão Fantástico - Critica


O longa conta a história de um pai papel do excelente Viggo Mortensen que vive com seus seis filhos no meio de uma floresta, eles sobrevivem do que a natureza prove e a educação das crianças é baseada na família e nos livros que aquele homem possui, assim os seus filhos jovens aparecem lendo sobre física, biologia, livros do ativista político Noam Chomsky entre outras coisas. Até que um dia descobrem que sua mãe que estava internada na cidade veio a falecer os seis partem rumo ao velório para valer os desejos da matriarca, ser cremada sem cerimônia alguma.
Com essa premissa, o filme segue claramente dois fios narrativos, o primeiro político, tentando registrar a posição contra cultural de família, em uma clara tentativa de seguir um pensamento hippie de enfrentamento com o sistema vigente, do outro lado, o longa tenta adentrar nas relações emotivas e sentimentais daquela família tão excêntrica, e mostrar de fato os laços construídos por eles.
Esse lado político é muito mais do que simples contextualização, essa ruptura com o sistema é o que move o modo de viver desta família, o excêntrico deveria ser muito mais do que um simples estilo de vida, mas uma afronta ao modo operante da sociedade, nem que isso venha por meio da exclusão total, da revolução individual e não coletiva. Esse é o ponto mais evidente nessa produção indie marcado pela anestesia, cinema em suma conciliatório visando ser acima de tudo agradável. Dessa forma, as posições políticas dos personagens e do próprio filme funcionam como alivio cômico e fofo ao mesmo tempo, é encantador até para quem não concorda, ver uma garotinha de oito anos dizer com convicção que resistir é o poder, mas politicamente bastante frágil.
Felizmente a trama do filme não atua apensa na camada política, mas investe num poder emotivo extremamente forte, Capitão Fantástico é também um longa sobre amor paternal, de um homem que cria seus filhos em cima de preceitos que ele considera corretos, deixando assim a sua percepção de amor. A essência de sua produção é um sentimento arquetípico muito forte, ligações patriarcais que surgem desde a origem primitiva do ser humano.
Logo da sequência de abertura do longa dirigido por Matt Ross mostra com extrema delicadeza e proximidade uma espécie de rito de passagem, na qual os seis adolescentes estão cheios de lama para que o mais velhos dos seis irmãos mate um cervo, assim que o jovem completa a missão o pai passa sangue do animal no rosto do filho, afirmando para o filho que ele deixava de ser um adolescente para ser um homem com responsabilidades e um foco de câmera nos mostra o pai com um singelo sorriso no rosto mostrando orgulho do seu primogênito.
Sempre que o longa segue por esse caminho da sensibilidade há um êxito gigantesco, tanto pela câmera de Ross, que não tem medo algum de se aproximar nos momentos mais sensíveis, como nas duas belíssimas sequencias finais, quanto pela presença impressionante do ator Viggo Mortensen como o pai dessa familia, o ator consegue aqui imprimir seu melhor trabalho de emoções ao conseguir expressar um amor incondicional por seus em pequenos atos, muito mais do que nas expressões de carinho propriamente dita, como um simples acompanhar de ritmo de seu filho ao tocar violão, enquanto seu mais novo batuca num carrom, transformando as batucadas do pequeno em festa, ou na voz firme do ator ao dar uma ordem, que gera uma feição prazerosa quanto tudo sai da forma que anseia.

Capitão Fantástico é um filme que felizmente não tem medo de explorar seus momentos mais tocantes, sendo dessa maneira um ótimo exemplar do que significa ser um filme indie em um cinema que hoje encontra muitos problemas e leveza excessiva, mas que muitas vezes elabora momentos extremamente intensos e tocantes.

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