Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi,
filme da diretora Dee Rees que se passa no sul dos Estados Unidos e narra a
historia de convivência entre duas famílias, foi indicado a três categorias no
maior premio do cinema o Oscar, após assistir ao filme pode se dizer que as três
indicações foram pouco para o trabalho entregue, a trama se desenvolve em cima
ao redor da interação dessas famílias, não somente uma com a outra, mas também entre
si.
“A tímida Laura (Carey Mulligan) acredita ter tirado a sorte grande
quando encontra Henry McAllan (Jason Clarke), um homem um pouco bruto, mas
interessado nela. Logo após o casamento, a família se muda para uma fazenda no
chuvoso delta do Rio Mississipi. Enquanto Laura enfrenta dificuldades para se
adaptar à vida rural, ela é confrontada com uma família negra, os Jackson,
responsáveis por ajudar no trabalho pesado com o plantio e a colheita. Duas
posições muito distintas se desenham na família: enquanto o pai idoso de Henry,
Poppy McAllan (Jonathan Banks), luta para manter os privilégios dos brancos no
terreno, o irmão de Henry, Jamie McAllan (Garrett Hedlund), desenvolve uma boa
amizade com o filho dos caseiros, Ronsell Jackson (Jason Mitchell), pelo fato de
ambos compartilharem traumas da guerra. Um violento conflito de etnias, gêneros
e classes sociais marca a convivência entre os McAllan e os Jackson”.
Indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado,
um trabalho em conjunto da diretora Dee Rees (Bessie, 2015) e do roteirista estreante
Virgil Williams, o filme é baseado no romance de mesmo nome da autora Hilary
Jordan, e merece a atenção que a premiação lhe dá. As interações das
personagens são bem retratadas, e cada inserção que a trama traz é relevante
para se entender as personagens, mesmo quando estas não se resolvem
satisfatoriamente, como se espera em uma narrativa, diversas vezes, nos é
concedido uma narração feita pelas personagens, embora algumas não incomodem, a
maioria parece desnecessária graças as atuações que encontramos no longa.
A atriz e cantora Mary J. Blige
conquistou não apenas uma, mas duas indicações ao Oscar pelo filme, a canção
original Mighty river tem chances de levar a estatueta de melhor canção
original e merecidamente, sua atuação como a personagem Florence Jackson é impecável
e consegue se destacar em meio a outras atuações magnificas. Rob Morgan que
interpreta Hap Jackson o marido de Florence, e poderia facilmente ter levado também
uma indicação pela sua impecável interpretação, ambos estão perfeitos no filme,
enquanto lidam com as consequências que o racismo, tanto no passado quanto no
presente, impõe em suas vidas. Quanto a família McAllan, Laura (Carey Mulligan)
e Pappy (Jonathan Banks) são os responsáveis por se destacar e roubar a cena e também
tem trabalhos que mereciam ser reconhecidos, a frustrada Laura consegue segurar
muito bem seu grande tempo de tela, enquanto Pappy com menos aparições no
decorrer do longa se mostra odiável em todo momento.
Responsáveis por trazer a guerra como
outro plano de fundo ao longa Jamie McAllan (Garret Hedlund) e Ronsel Jackson
(Jason Mitchell) trazem consigo um alivio entre o tenso clima que flutua sobre
todas relações do filme, mas mesmo a camaradagem mostra o lado sombrio do que é
ser um veterano de guerra, ambos voltam, cada um da sua forma traumatizados, o
mais brilhantes nesses personagems fica por conta de que o personagem Jamie não
suporta ter ido até a Europa, enquanto Jason não suporta ter voltado pra casa.
Tecnicamente, o filme não se destaca,
mas também não erra digno de menção a lama está presente durante todo o longa,
mostrando que essas personagens estão presas e atoladas ao seu tempo e espaço,
cada um a sua maneira. A chuva, recorrente, ajuda ainda mais a passar a ideia,
uma metáfora é sutil, mas bastante evidente, e ajuda a fazer o público se
sentir mais pesado ao sair da sala de cinema. Depois de mostrar ao público o que
poderia ter sido um final digno de um filme que trata sobre a segunda guerra e
o sórdido racismo do Mississipi, o filme acaba se alongando demais e acaba perdendo um pouco de sua força ao dar
um final digno de novela a seus personagens, o que poderia ser amargo, acaba se
tornando idoce demais.
Ainda assim, Mudbound: Lágrimas Sobre o
Mississipi acerta na maneira de conduzir sua trama, atolando o público junto de
seus personagens, e expondo o forte racismo do sul estadunidense e a carga
emocional que a guerra impõe, com um trabalho de direção impecável, e um elenco
repleto de feras em seus melhores momentos na carreira, conseguem entregar
interpretações emocionantes que nos envolvem em suas tramas e nos fazem sentir
na pela a dor, sofrimento e angustia dos traumas que passaram, passam e irão
passar.



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